Que horas são?
Uma nova maneira de contar o tempo criada para os internautas extingue os fusos horários, acaba com horas, minutos e segundos e institui outra unidade de medida, o beat.
Gabriela Aguerre
Se você é internauta, talvez esse acessório no seu pulso esteja atrasado – irremediavelmente atrasado. Não adianta nem mexer nos ponteiros. Caso a idéia da fábrica suíça de relógios Swatch emplaque, horas, minutos e segundos serão tão úteis na Internet quanto uma ampulheta numa corrida de Fórmula 1. A empresa campeã em jogadas de marketing criou uma nova forma de marcar o tempo. Batizada de Internet Time, ela põe fim aos fusos e cria um horário universal. Trocando em miúdos, é sempre a mesma hora em qualquer lugar do mundo. Além disso, o dia foi dividido em 1 000 unidades, chamadas de beats.
Parece complicado? É mesmo. Veja bem: suas referências de hora são baseadas na luz do dia. Japoneses, brasileiros e suíços dizem meio-dia quando o sol está a pino – o que acontece em momentos diferentes em cada país. O Internet Time vira esse princípio pelo avesso. Quando o sol está a pino em Biel, Suíça, onde fica a sede da Swatch, são @500. Em São Paulo, também são @500, só que, se os suíços estão almoçando, os paulistanos recém-acordaram, pois são 8 da manhã.
A principal vantagem é que os internautas vão poder marcar encontros na rede sem calcular os fusos. “Para TV a cabo, que tem uma programação mundial, também vai ser útil”, observa Luciano Ramalho, diretor técnico da Hiperlógica, empresa que faz programas para a Internet. Mas tem gente que discorda. “A adoção de dois sistemas tão diferentes, um na rede e outro fora, baseado na hora de Greenwich, não vai dar certo”, disse à SUPER John Laverty, diretor do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido, por onde passa o meridiano de Greenwich.
Talvez não se trate de vantagens – e sim de adequação. A Internet está virando um mundo paralelo, em que tanto faz se é noite ou dia, longe ou perto. É compreensível que a forma de medir o tempo também seja diferente. Se a novidade vai conquistar os 150 milhões de internautas, isso são outros 500 beats. Por enquanto, só há 50 000 adeptos. Mas não estranhe se daqui a algum tempo até um britânico passar a tomar o chá dos @750.
Para saber mais
Na Internet: Swatch – https://www.swatch.com
Novo aprendizado
Com o dia dividido em 1 000 beats (batidas, em inglês), é preciso reaprender a ver as horas. Para facilitar, a Swatch desenvolveu um conversor – acessível pela Internet – que calcula sozinho o horário local e exibe um relógio na tela do seu computador.
Arroba por quê?
Em inglês, o sinal da arroba – @ – se diz “at”, que significa em ou às. Logo, toda vez que você vir @500, por exemplo, entenda que está “em” ou “aos” 500 beats.
E o Big Ben com isso?
Este aqui é o Big Ben, o famoso relógio inglês, sinônimo de hora certa no mundo todo. Aqui ele parece sem ponteiros para simbolizar o Internet Time. É o velho misturado ao novo, só que não tão novo assim. No final do século XVIII, a França também quis usar uma unidade de tempo decimal, mas a experiência durou pouco. Não pegou.
A dança dos ponteiros
O Internet Time faz Londres deixar de ser o ponto de referência mundial.
Cai Londres
O horário baseado no meridiano de Greenwich fez de Londres referência mundial há mais de um século. O Greenwich Mean Time (Horário Médio de Greenwich), ou horário GMT, divide o planeta em 24 fusos horários. Em cada um deles, é uma hora diferente: até doze mais tarde e até doze mais cedo em relação à capital inglesa. O horário de Brasília, por exemplo, é -3GMT, isto é, três horas antes de Londres. Se lá é meia-noite, aqui são 21 horas.
Sobe Biel
O ponto de partida do Internet Time está no meridiano de Biel, onde fica a sede da Swatch. Na área cortada por ele, @000 é meia-noite e @500, meio-dia. Quando o sistema pegar de vez, é disso que você vai se lembrar o tempo todo.