João Steiner
Desde tempos imemoriais, os astrônomos da Antiguidade perceberam que, de vez em quando, surgiam no céu estrelas que até então nunca haviam sido observadas. Por isso, elas ficaram conhecidas como novas ou, nos casos em que seu brilho é excepcional, como supernovas.
Hoje se sabe que esses novos focos de luz representam estrelas que estão muito distantes para serem vistas, mas que, ao explodir, reluzem de modo espetacular. No ano passado, descobriu-se um novo tipo de detonação, já batizada de hipernova devido à sua intensidade extraordinária: logo ao ser avistada e registrada sob a sigla 1998bw, percebeu-se que era dez vezes mais forte que uma supernova tradicional.
Não conhecemos ainda a causa desse tipo de catástrofe. Especula-se, apenas, que ele seria produzido pela morte de uma estrela de massa incrivelmente grande porque as detonações conhecidas estão sempre associadas a corpos descomunais. Começando pelas supernovas, a descoberta decisiva foi feita pelo russo-americano George Gamow e pelo brasileiro Mário Schenberg. A teoria criada por eles mostra que as supernovas destroem estrelas gigantes, às vezes com massa dezenas de vezes maior que a do Sol.
A explosão age para dentro e para fora: ela joga as camadas externas da estrela para o espaço, transformando-as em imensas nuvens de gás e poeira chamadas nebulosas, e também esmaga o caroço central da estrela.
As novas são bem distintas, pois todas estão ligadas a sistemas binários, nos quais há uma estrela comum e uma outra, chamada anã branca, muito mais quente e mais densa que o Sol. A anã, então, usa sua força gravitacional para arrancar da companheira uma grande quantidade de gás. Com isso, aumenta a sua massa e tende a explodir. Mas o resultado, nesse caso, não é tão violento quanto o das supernovas e não leva à destruição por inteiro dos astros envolvidos.
O mecanismo exato da explosão das novas só foi decifrado em 1971. Numa explicação simples, ele é alimentado por reações nucleares semelhantes às que ocorrem no Sol e o fazem brilhar. Só que, numa nova, as reações saem de controle, como numa gigantesca bomba atômica.
Então, é falsa a impressão que temos, ao olhar o céu em uma noite estrelada, de que ele é um cenário de calmaria permanente. As estatísticas mostram que as supernovas ocorrem apenas uma vez por século em cada galáxia, mas podem brilhar mais do que 100 bilhões de estrelas juntas, durante vários meses. Já as novas, apesar de serem bem menos dramáticas, pipocam com uma freqüência milhares de vezes maior. Ainda não sabemos de quanto em quanto tempo surgem as hipernovas, já que, por enquanto, só vimos uma. Mas a sua existência, por si só, reforça a idéia de que o Cosmo movimenta forças de magnitude inimaginável.
João Steiner – Professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP