Texto Cíntia Cristina Da Silva
Os chineses estão investindo mais de US$ 40 bilhões para fazer da Olimpíada de Pequim a mais moderna de todos os tempos. Mas a natureza ameaça estragar a festa: agosto é um mês em que chove muito na China – a probabilidade de cair um toró na abertura dos jogos, dia 8, é de 47%. E vários dos locais onde as competições serão realizadas, como o belíssimo Estádio Nacional (veja ao lado), não são cobertos. Ou seja: em muitos casos, um mero pé-d’água pode colocar tudo a perder.
Contra isso, os cientistas vão apelar para a alta tecnologia: montaram uma rede hipersofisticada para monitorar o clima com precisão inédita. Aí, quando detectarem a possibilidade de chuva, vão bombardear as nuvens com produtos químicos – a idéia é manipular as gotículas de água que estão flutuando dentro das nuvens, incentivando ou bloqueando a formação de chuva.
“As nuvens de verão são muito instáveis, difíceis de controlar. Além disso, não há nenhuma prova de que os chineses sejam capazes de aumentar ou suprimir a incidência de chuva”, diz o especialista em atmosfera Andrew Detwiler, da Faculdade de Tecnologia de Dakota do Sul, nos EUA. Esse ceticismo tem uma razão bem clara. A China gasta, todo ano, cerca de US$ 90 milhões em tecnologias de controle do tempo. Mesmo assim, os meteorologistas locais não conseguiram prever ou controlar a nevasca que atingiu o país no final de janeiro, e foi a pior dos últimos 50 anos.
Os chineses se defendem, dizendo que sua técnica consegue evitar chuvas leves e médias – só não bloquearia os torós mais fortes. Tudo graças ao uso de nitrogênio líquido, que será testado pela primeira vez em Pequim. É esperar pra ver.
Todos contra São Pedro
Operação reunirá cientistas, pilotos e soldados para evitar ou pelo menos reduzir a chuvarada que castiga Pequim em agosto
1. Vigilância
Serão 200 pontos de medição, com mais de 1 500 profissionais – é o maior sistema de previsão do tempo já construído. Ele tem uma rede de supercomputadores capaz de fazer 9,8 trilhões de contas por segundo. Tudo para detectar as nuvens chuvosas o quanto antes.
2. Interceptação
Assim que os meteorologistas detectarem chuva se aproximando, acionarão uma frota de 30 aviões, que irão jogar ?iodeto de prata? nas nuvens. Essa substância gera uma reação química que faz chover – a idéia dos cientistas é “esvaziar” as nuvens antes que cheguem à cidade.
3. ATaque
Se os aviões não conseguirem dissipar a chuva, entrará em ação uma arma mais radical: uma rede de lança-foguetes espalhados pela cidade que vai atirar ?nitrogênio? líquido nas nuvens. A idéia é tentar “acalmá-las” e paralisar o processo de chuva. É uma tecnologia nova, e ninguém sabe se vai funcionar.
Poluição
A outra nuvem negra
Pequim é uma das cidades mais poluídas do mundo. E a manipulação do clima pode piorar isso: “Tem que chover, senão os atletas vão sofrer muito”, diz o especialista Augusto Pereira Filho, da USP. Como resposta, o governo chinês também quer estimular os torós: na véspera da abertura dos Jogos, pretende induzir uma grande chuva para limpar a atmosfera. Além disso, diz que vai fechar fábricas, parar construções e banir parte dos carros. Mas a situação é crítica: se os níveis de poluição ficarem muito altos, o Comitê Olímpico Internacional poderá adiar algumas das competições.