Tecnologia:fomos dominados
Testamos o primeiro controle remoto de seres humanos - e ele funciona.
Diego Velasco e Valéria de Barros
Tentávamos andar em linha reta, mas algo nos obrigava a virar. Estávamos transformados em um brinquedo de controle remoto! Pesadelo? Ficção científica? Não, era só a experiência de estar sujeito à Estimulação Galvânica do Sistema Vestibular (GVS), a primeira tecnologia capaz de dirigir pessoas por controle remoto. Não é nada novo: o método foi descoberto no século 18 pelo inventor da pilha, o italiano Alessandro Volta. Ao aplicar uma descarga elétrica ao interior de seus próprios ouvidos, Volta caiu no chão desnorteado. Ele havia percebido a duras penas a importância do sistema vestibular: tubos cheios de líquido no ouvido interno que regulam o equilíbrio e o movimento humanos. Na época, ninguém viu muita utilidade na experiência. Só agora, na Siggraph de Los Angeles, a maior feira de computação gráfica e tecnologias de interatividade do mundo, o instituto japonês NTT mostrou do que ela é capaz. Por incrível que pareça, o aparelho não foi feito para dominar o mundo. Ele poderia, por exemplo, auxiliar cegos a desviar de obstáculos ou, acoplado a um GPS, guiar pedestres por um caminho. Mas a grande promessa – simuladores e videogames – já está em teste. Depois de caminhar, fomos levados a um telão com um jogo de Fórmula 1. Cada curva e acelerada acionava o sistema GVS e nos fazia inclinar o corpo, aumentando o realismo do videogame. Só não espere esses superjogos tão cedo: o aparelho ainda está em fase de testes e não se conhecem os efeitos colaterais a longo prazo. Por enquanto, estamos nos sentindo bem.
Sob controle
O choque interfere no equilíbrio e traz a sensação de que o chão, de repente, ficou inclinado. Assim como você precisou virar a página para ler esta nota, os voluntários caminharam para o lado a fim de compensar o desequilíbrio.
Quem manda?
Os voluntários precisaram assinar um documento que eximia a empresa de qualquer responsabilidade. Foram então instruídos a andar em linha reta, enquanto um funcionário ficou com o controle remoto na mão.
Desequilíbrio
A cobaia foi equipada com baterias ligadas a eletrodos atrás das orelhas. De acordo com sinais do controle remoto, eles dão pequenos choques que interferem no sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio do corpo humano.