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Um robô no seu lugar

Você já pode ficar em casa - e mandar uma máquina ir trabalhar ou estudar por você. Conheça os robôs de telepresença, que estão ganhando escolas, hospitais e empresas pelo mundo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 1 jul 2014, 22h00

Anna Carolina Rodrigues

Devon Carrow é um menino alegre e sorridente. Exceto por um detalhe: ele tem síndrome de choque anafilático, doença que causa reações alérgicas e pode matar. Por isso, o garoto de 7 anos não pode sair de casa, nem para ir à escola. Mas, desde o ano passado, ele está frequentando as aulas do colégio de West Seneca, no Estado de Nova York, por meio de um robô. A máquina, que foi criada pela empresa americana VGo e custa US$ 6 mil, fica na sala de aula, ao lado dos demais alunos. Devon fica em casa, vendo e ouvindo tudo via internet. O professor e os alunos o veem e ouvem por meio do robô, que mostra a cara do menino e reproduz sua voz. Quando quer fazer uma pergunta, Devon aperta um botão e o robô acende uma luz para pedir a palavra ao professor. Na hora do recreio, ele acompanha os amiguinhos usando a máquina, cujos movimentos também controla. “É como jogar um videogame. É muito legal”, disse o menino à agência de notícias Associated Press. Os robôs de telepresença não pensam nem agem sozinhos e, a rigor, não são muito mais do que webcams sobre rodas. Mas são a primeira criatura robótica a se integrar ao cotidiano humano. Além de Devon, mais 48 crianças já estão frequentando a escola graças a robôs desse tipo, que são fabricados por várias empresas e também estão começando a ser usados em escritórios, residências e hospitais pelo mundo.

Após o terremoto que devastou o Haiti, em 2010, o médico brasileiro Antônio Marttos, do hospital de traumatologia da Universidade de Miami, usou um robô de telepresença para orientar médicos no tratamento de 450 pacientes. E, no ano passado, após o atentado terrorista na maratona de Boston, ele também se comunicou com médicos locais por meio de um robô. “É como ter um médico a mais no leito. E como o médico a distância está em um ambiente mais controlado, sob menos estresse, isso ajuda na hora de fazer o diagnóstico, diminui a chance de erro”, conta Marttos. Segundo ele, os robôs de telepresença já são usados até em hospitais do interior da Flórida, que assim podem contar com a atuação de especialistas. Basta que o médico acesse o site do hospital e digite uma senha para assumir o controle do robô. Aí, ele usa a máquina para circular livremente, conversar com pacientes e checar resultados de exames. Alguns modelos até têm entrada para um estetoscópio eletrônico, que pode ser usado para fazer um check-up rápido dos pacientes. Tudo isso ajuda os hospitais a economizar. Mas também pode fazer a diferença para os doentes.

Em setembro do ano passado, o americano Don (o sobrenome não foi divulgado pelos médicos) saiu de casa para ir trabalhar. No meio do dia, começou a passar mal. Don não sabia, mas estava tendo um acidente vascular cerebral (AVC). Um derrame. Por sorte, ele estava no melhor lugar possível: um hospital, o Providence Hood River Memorial, em Oregon, onde trabalhava. Em questão de minutos, já estava deitado em uma maca sendo examinado por um médico. Quando a pessoa tem um derrame, agir rapidamente é fundamental. Isso porque existe uma droga, chamada rtPA, que desobstrui coágulos e restabelece a circulação sanguínea no cérebro. Ela pode evitar sequelas gravíssimas, como perda da fala e dos movimentos. Mas tem de ser injetada no máximo três horas após o acidente vascular.

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O problema é que, no caso de Don, os especialistas não conseguiam chegar a um diagnóstico. Eles decidiram pedir ajuda ao neurologista Nicholas Okon, um dos membros da Providence Telestroke Network – organização que dá acesso a especialistas em derrame, 24 horas por dia, pela internet. Okon assumiu o comando do robô do hospital, fabricado pela empresa InTouch, e pôde observar o paciente e os sintomas como se estivesse lá pessoalmente. “O acidente vascular cerebral é uma epidemia nos EUA. Nós criamos essa tecnologia justamente para suprir a necessidade de ter um neurologista na emergência”, conta o médico brasileiro Marcos de Sousa, diretor da empresa. Graças à ajuda do robô e do neurologista, Don recebeu o tratamento adequado e ficou bem.

Os robôs também podem ajudar a cuidar de idosos. Para avaliar como essas pessoas lidariam com a presença de uma máquina, a VGo colocou alguns robôs em casas de repouso. “Eles adoraram, sentiram que estavam recebendo mais atenção”, conta Ned Semonite, vice-presidente da empresa, que usa um robô para acompanhar a rotina da própria mãe, de 84 anos. “Antes ela ficava sozinha, e muitas vezes não atendia o telefone. Eu precisava pedir aos vizinhos que fossem até a casa dela. Agora eu simplesmente ligo o robô, converso, ando pela casa e tenho certeza de que ela está bem”, diz. Segundo ele, a recepção em escolas tem sido boa, mas com as brincadeiras de praxe. “Em um colégio, umas meninas taparam a câmera do robô com fita.” Foram parar na sala do diretor.

Da firma à olimpíada

Os maiores adeptos dessa tecnologia são as empresas. Elas não gostam de discutir o assunto (a SUPER procurou várias companhias que utilizam robôs de telepresença, e nenhuma quis falar a respeito), mas estão cada vez mais próximas das máquinas – só nos EUA, já são mais de 700 robôs do tipo em empresas. A vantagem é que o profissional pode se deslocar pelo escritório, falar com várias pessoas e participar de reuniões em várias salas, com muito mais agilidade e presença física do que se estivesse se comunicando por Skype ou e-mail. Na prática, isso nem sempre é tão fácil quanto parece. Como nós da SUPER constatamos ao substituir um de nossos editores por um robô (leia texto na página 59). Também houve casos de empresas e executivos que abandonaram a tecnologia, considerada complicada demais. Mas isso não desanima os fabricantes. “Quando surgiram ferramentas como o Skype, algumas pessoas questionaram a necessidade de ver o rosto da pessoa com quem se estava falando, mas depois entenderam o valor disso. Acho que com os robôs de telepresença vai acontecer a mesma coisa”, acredita Semonite, da VGo.

O Comitê Olímpico Brasileiro é igualmente otimista: pretende usar robôs, em parceria com a Universidade de Miami, para auxiliar no tratamento de atletas durante as Olimpíadas de 2016. A tecnologia já foi usada pelo COB em um projeto-piloto durante os Jogos Olímpicos de Londres. Na ocasião, durante um treino, a ginasta Laís de Souza teve uma fratura na mão. Por meio do robô, a equipe médica contactou um especialista da Universidade de Miami que ajudou a diagnosticar o tipo e a gravidade da lesão (que acabou levando ao corte da atleta). “Como não é possível levar um milhão de especialistas para o evento esportivo, levamos bons médicos, e com o robô temos acesso a especialistas do mundo inteiro. Ele não substitui o médico local, mas multiplica e otimiza o diagnóstico rapidamente”, conta José Alfredo Padilha, chefe médico da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres.

Os robôs de telepresença ainda estão longe de ser comuns. Mas dois modelos querem mudar isso e dar um empurrão decisivo na popularização da tecnologia. O primeiro é o Luna, da marca RoboDynamics. Ele é o primeiro robô aberto, ou seja, capaz de rodar aplicativos criados por terceiros. A ideia é que outras empresas criem apps que explorem as capacidades do robô, adicionando funções de segurança, fotografia, lazer etc, e cada usuário baixe aqueles que quiser. Em suma, reproduzir o modelo dos smartphones no mundo da robótica. O problema é que, mesmo sendo mais acessível do que os outros robôs, o Luna ainda não é barato: vai custar US$ 3 mil. Esse obstáculo é superado pelo Synergy Swan, que foi criado pela empresa russa R.BOT e custa US$ 1 mil nos EUA – mesmo preço de um iMac. “Nós queremos colocar um robô em cada casa”, diz Fred Nikgohar, da RoboDynamics.
Parece improvável? Sim. Como soava improvável o objetivo de um tal William, que em 1975 fundou uma empresa com o mesmo sonho: levar uma nova tecnologia a “todas as casas e escritórios” do planeta. Os especialistas diziam que era absurdo, ninguém iria querer aquele produto. Erraram. Hoje, a maioria das casas tem um PC – e William Gates, vulgo Bill, é o homem mais rico do mundo.

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