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O que é a consciência humana?

Como o seu cérebro produz o filme que faz com que você seja você mesmo?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 Maio 2007, 22h00

Rodrigo Cavalcante

Descartando o argumento religioso – segundo o qual a consciência está em sua alma (ou espírito) e independe do seu corpo físico – é preciso procurá-la em seu cérebro, órgão que pesa 1,3 quilo e tem a consistência de um ovo mole.

A primeira vez que ficou claro na medicina que até a personalidade de uma pessoa pode mudar por meio de uma mudança física no cérebro foi em 1848, no estado de Vermont, EUA, quando um operário de 25 anos que trabalhava na construção de ferrovias, chamado Phineas Gage, sofreu um acidente bizarro. Após uma explosão malsucedida de rochas que estavam no traçado do trilho, uma barra de ferro em forma de lança atravessou como um projétil a base do crânio de Gage e saiu pelo topo de sua cabeça. Após cair no chão e sofrer uma série de convulsões, ele voltou a falar normalmente e, ao menos aparentemente, recobrou a consciência. O problema é que, após essa perfuração no cérebro, ele jamais foi o mesmo. De um homem trabalhador e amigável, Gage havia se transformado, segundo os relatos da época, em um típico cafajeste. Ele havia perdido qualquer censura, tornara-se arrogante e capaz de qualquer coisa para levar vantagem em tudo. Mas será que um dano físico no cérebro pode mudar a consciência de uma pessoa?

O papel das emoções

Hoje, os neurologistas sabem que a área afetada no cérebro de Gage foi o córtex pré-frontal. Parte do cérebro que fica logo abaixo da testa, tem um papel importante em nossa capacidade de sentir emoções. Ao perder essa capacidade, as pessoas tornam-se mais indiferentes, já que não conseguem mais sentir as emoções responsáveis por aquele aperto no peito de culpa ou remorso, por exemplo. “São esses sentimentos que nos obrigam a repensar atitudes, mudar, evoluir”, diz Dylan Evans, neurologista da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autor de Emotions – The Science of Sentiments (“Emoções – A Ciência dos Sentimentos”, ainda inédito no Brasil).

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Do acidente de Phineas Gage para cá, os neurologistas e biólogos sabem que esse filme que só você assiste – e que reúne a história da sua vida, preferências, emoções, enfim, a sua identidade – tem origem em uma série de atividades integradas no seu cérebro. De acordo com eles, a capacidade de representar o mundo na mente não passa de um traço evolutivo, assim como a nossa habilidade para a locomoção. Na prática, o que os cientistas querem dizer com isso é que, de certa forma, outras espécies também têm consciência. A diferença estaria no grau dela. Enquanto uma anêmona do mar, por exemplo, se expande ou se contrai diante da presença da luz solar, o homem tem uma série de instrumentos para representar o ambiente de uma forma bem mais sofisticada. Diante de um risco de assalto iminente, por exemplo, sentimos medo, tentamos antecipar visualmente o que pode acontecer, calculamos a chance de escapar, nos lembramos das pessoas que amamos, enfim, nosso cérebro realiza simultaneamente uma série de atividades. E, após essa experiência, esses acontecimentos – assim como os sentimentos envolvidos nele – são registrados para que você se sinta ruim novamente diante de outra ameaça – e tenha mais chances de sobreviver.

Mas em que momento essas atividades formam aquilo que você chama de sua consciência? Para Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, a consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma representação mental que é armazenada em sua memória. Ao comer uma comida diferente, por exemplo, surgiria uma mudança nas conexões do seu cérebro. “Quanto mais o mundo passa a ter significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro”, diz Greenfield.

Hoje, ações do nosso cérebro podem ser monitoradas por meio da técnica de tomografia por emissão de pósitrons, que mede a quantidade de energia que cada área consome em cada uma dessas atividades. O resultado dessas pesquisas tem revelado que as diversas atividades responsáveis pela nossa consciência requerem o casamento de várias regiões. Ou seja: o que faz de você você é a soma de todas as representações que você faz dos outros e do seu ambiente, que podem se expandir a cada dia, desde que você mantenha sua consciência aberta.

 

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