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O seu novo eu

Força sobre-humana. Olhos que enxergam no escuro. Implantes que dão ao cérebro novas funções - e até um sexto sentido. Sim: tudo isso é real, e já está sendo desenvolvido em laboratórios de pesquisa. Conheça as novidades que vão revolucionar o corpo humano.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 28 ago 2011, 22h00

Salvador Nogueira e Bruno Garattoni com reportagem de Alexandre Duarte

Rex Jameson não é o tipo de gente que chame a atenção. É um típico americano de meia-idade, voz sua­ve, jeito calmo. Ele até malha um pouco, se cuida para não ficar barrigudo, mas está longe do estereótipo dos bombadões de academia. Mesmo assim, Jameson é um sujeito bem forte. Na verdade, ele é a pessoa mais forte que já passou pelo planeta Terra. Consegue fazer milhares de flexões, lutar durante horas, carregar 200 kg e fazer qualquer tipo de esforço físico sem o menor sinal de cansaço. Jameson tem um segredo. Milo também. Ele adorava motos. Aos 16 anos, pegou uma emprestada durante as férias. Não acabou bem. Ele bateu num poste. Até que, em maio deste ano, decidiu se submeter a um novo e polêmico tipo de cirurgia – que o transformou numa espécie de ciborgue.

Milo e Rex são pioneiros. Eles já estão vivendo na próxima grande revolução tecnológica: a reinvenção do corpo humano. Combinando robótica, genética e neurologia, ela vai transformar profundamente a maneira como nós encaramos nosso corpo – e nos fazer viver (e conviver) de uma maneira muito diferente.

A história começa em 2001, na Sérvia. Fisicamente, a mão de Milo (cujo sobrenome foi omitido a pedido dos médicos) parecia intacta – mas, por dentro, os nervos que a conectam ao cérebro haviam sido cortados. Ele viveu assim, com a mão mole porém inteira, por dez anos. Até que, em maio deste ano, decidiu se livrar dela. Numa operação que gerou controvérsia na comunidade científica (logo mais você vai entender o porquê), cirurgiões da Universidade de Viena amputaram a mão de Milo – e no lugar instalaram um novo tipo de prótese de altíssima tecnologia, fabricado pela empresa alemã Otto Bock. Hoje, Milo vive uma vida praticamente normal. Sua mão biônica não lembra em nada os braços mecânicos do passado. Funciona como se fosse uma mão de verdade – Milo só precisa pensar num movimento e o cérebro envia os sinais necessários para movimentar a prótese, que é capaz de movimentos complexos e delicados (como amarrar os sapatos ou segurar um ovo), possui tato e também faz algumas coisas que uma mão natural não faz, como girar 360 graus.

Rex, o homem mais forte do mundo, trabalha na Raytheon, empresa que está desenvolvendo o XOS: um exoesqueleto robótico capaz de dar força sobre-humana a qualquer pessoa. “Quando estou com ele, me transformo numa versão mais rápida e mais forte de mim mesmo. É uma sensação incrível.”

A reinvenção do corpo vai fazer cegos voltarem a enxergar, surdos voltarem a ouvir, pessoas paralisadas voltarem a andar. E também dar novos poderes às pessoas normais. Ou, pelo menos, fazer com que elas fiquem bem mais bonitas.

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Melhor que silicone

Segundo uma estimativa do governo americano, aproximadamente 10 milhões de mulheres no mundo têm implantes de silicone. Parece bem mais – para boa parte das aspirantes a “modelo e atriz” que aparecem na mídia, as próteses mamárias são praticamente um equipamento de série. Mas o silicone está ficando obsoleto. Uma nova técnica vai revolucionar as cirurgias plásticas: implantes naturais, feitos com células da própria paciente.

Depois de 8 anos de pesquisa, a empresa americana Cytori desenvolveu um procedimento que usa células-tronco para fazer os seios crescerem. Primeiro, a paciente passa por uma microlipoaspiração, que é feita com uma seringa e retira cerca de 600 ml de gordura da barriga. Em seguida, a gordura é colocada numa máquina especial, onde é processada com enzimas que isolam as células-tronco misturadas às células adiposas. Por fim, as células-tronco são injetadas nos seios, onde formam novos vasos sanguíneos e novos tecidos – aumentando o tamanho dos seios (veja no infográfico ao lado). O resultado é mais natural do que com os implantes de silicone, porque é natural mesmo – é como se a mulher tivesse nascido já com os seios maiores. O aumento é permanente e, como utiliza células da própria paciente, em tese não apresenta nenhum efeito colateral. O procedimento já foi testado com sucesso em dezenas de mulheres e agora aguarda a autorização do governo dos EUA.

As células-tronco também podem revolucionar outra grande questão estética: o sorriso bonito. O casal de cientistas Silvio e Monica Duailibi, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), já está trabalhando para criar o que chama de “terceira dentição”. O que é isso? Quando você nasce, logo surgem os dentes de leite. Lá pelos 6, 7 anos cai tudo e nascem os dentes permanentes. Com o passar das décadas (e de eventuais cáries, obturações, extrações e outros procedimentos dentários), os ditos permanentes também vão dando adeus. E você vira um candidato a usar dentadura – ou um implante com pinos de titânio.

Mas o casal Duailibi aposta que não precisa ser assim. “O tratamento dentário do futuro será com aplicação de dentes naturais, feito com biomaterial da própria pessoa”, afirma Monica. Você deixaria uma amostra das suas células-tronco no dentista. Algum dente caiu ou está muito estragado? Basta tomar uma injeção na gengiva, onde as células-tronco darão origem a um novo dente, que nascerá de 2 a 3 meses depois.

Ainda falta tempo para chegar a esse ponto, mas as pesquisas estão adiantadas. Em 2004 a dupla brasileira conseguiu produzir seu primeiro dente, com células de porco, e hoje já domina o processo com dentes humanos.

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Se você acha que seios grandes e dentes perfeitos são avanços fúteis, está enganado. A mesma técnica serve para curar diversos problemas, de infarto a incontinência urinária. “Esse processo servirá para criar qualquer tecido ou órgão”, diz Silvio Duailibi.

Parece futurista, não? Mas já é realidade – e desde 2006. Foi quando a americana Kaitlyne McNamara, então com 16 anos, se tornou a primeira pessoa a receber uma bexiga artificial: construída em laboratório com células do próprio organismo dela. Kaitlyne nasceu com a bexiga malformada, o que criava problemas sérios. A menina tinha de ingerir pouco líquido e bem devagar ou a bexiga poderia simplesmente estourar. Sua vida mudou graças a cientistas da Universidade da Carolina do Norte. Eles extraíram algumas células saudáveis da bexiga de Kaitlyne e as espalharam sobre um molde (também em formato de bexiga). As células foram se multiplicando e algumas semanas depois o órgão estava pronto para ser implantado.

Esse processo é altamente delicado e artesanal. Mas também é possível fabricar órgãos em máquinas – como a impressora a jato de tinta que você tem na sua casa. É nisso que acredita o engenheiro de tecidos Anthony Atala, da Universidade de Wake Forest (EUA). Ele descobriu como modificar uma impressora comum para produzir um rim: é só usar células no lugar de tinta. A impressora imprime em camadas ultrafinas, que depois são empilhadas para formar o órgão. A técnica de Atala ainda tem uma limitação importante – não consegue reproduzir as estruturas internas do rim, ou seja, não resulta em um órgão completo. Mas já serve para reparar ferimentos superficiais na pele, por exemplo. Isso pode ser muito útil para vítimas de cortes e queimaduras – ou simplesmente para quem quiser eliminar manchas e marcas de expressão do rosto).

Já existe até quem acredite na possibilidade de melhorar a pele humana. É Zhenan Bao, pesquisador da Universidade Stanford. Ele criou uma pele para robôs: uma película flexível equipada com células fotovoltaicas, capaz de obter energia da luz solar para alimentar os circuitos do robô. Num ser humano, a energia colhida pela pele artificial seria útil para alimentar outras próteses eletrônicas que a pessoa porventura usasse. O mais interessante é a sensibilidade dessa pele, muito acima da natural. “Ela detecta o caminhar de uma mosca”, diz Bao. Ou seja: a pele artificial pode ser o princípio para o desenvolvimento do supertato – que nos permitiria sentir o mundo como jamais imaginamos. Colocada sobre a pele natural, essa camada artificial poderia trazer sensações inimaginavelmente intensas (e talvez prazeirozas). Mas, para que isso aconteça, um desafio precisa ser vencido: como conectar a pele artificial ao sistema nervoso. Pode parecer – e é – algo complicadíssimo, mas está longe de ser impossível. Adivinhe só: também já está acontecendo.

Aumento dos seios

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Como a coleta e aplicação de células pode aposentar o silicone

1. Extração

Usando uma seringa, o médico retira uma pequena quantidade de gordura da barriga da paciente. O procedimento é repetido 10 vezes. O material coletado contém muitas células adiposas e algumas células-tronco.

2. Manipulação

O material é inserido numa máquina chamada Celution System, que usa enzimas e um processo de centrifugação (patenteado e secreto) para separar as células-tronco. A mistura fica superconcentrada: com mais células-tronco do que gordura.

3. Implantação

O líquido é injetado em vários pontos do seio, que, devido à gordura, cresce no ato. Ao longo das semanas seguintes, as células-tronco formam vasos sanguíneos no seio – fixando a gordura no lugar e evitando que ela seja reabsorvida pelo organismo.

CADA 60 ml DE GORDURA, EQUIVALENTEs A 1 SERINGA, FAZEM O SEIO CRESCER 1,5 cm

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Olho eletrônico

A visão é um sentido incrivelmente sofisticado. A luz que chega aos seus olhos é focalizada na região da retina, que fica no fundo do globo ocular. Ali células especiais, fotorreceptoras, detectam diferentes frequências de luz e transmitem os estímulos pelo nervo óptico, que liga os olhos ao cérebro. O cérebro recebe e processa esse sinal para transformá-lo na imagem que você enxerga – o que envolve inclusive desinvertê-la (devido a um fenômeno óptico, os olhos humanos captam a imagem de ponta-cabeça).

Há diversas formas de perder a visão, mas uma das mais comuns é por danos na retina. Contra ela, os cientistas estão desenvolvendo uma impressionante solução cibernética: um chip que pode restaurar a visão. Diversos grupos trabalham nessa tecnologia, mas o mais avançado está na empresa alemã Retina Implant AG. Ela desenvolveu um microchip com 1 520 sensores, que são capazes de restaurar a visão de uma pessoa cega – que passa a enxergar com resolução de 38 x 40 pontos. É bem pouco: suficiente apenas para sentir a presença de luz, distinguir formas geométricas e reconhecer certos objetos. Mas é melhor do que nada.

E o mais interessante é um efeito colateral do implante. O chip torna as pessoas capazes de ver raios infravermelhos (um tipo de luz invisível aos humanos). Isso dá a eles um superpoder digno de filme: a capacidade de enxergar no escuro total. Tecnicamente, é possível criar um implante que permita a qualquer pessoa fazer isso. Hoje em dia, ninguém trocaria um olho sadio por uma visão de 38 x 40 pontos – mesmo que incluísse um pacote para ver no escuro. Sem falar no risco da cirurgia. Mas no futuro, quando a tecnologia alcançar uma resolução aceitável, é bem possível que algumas pessoas (soldados, por exemplo) optem pelo upgrade – que seria acoplado a seus olhos.

A surdez é um problema mais comum que a cegueira, e por isso os cientistas trabalham há mais tempo em soluções para ela. Como consequência, já existem vários aparelhos que potencializam a audição das pessoas normais. Na internet é possível comprar, por menos de US$ 200, um dispositivo que permite ouvir tudo o que está sendo dito a um quarteirão e até escutar através das paredes. É ilegal (imagine o caos que seria se qualquer pessoa tivesse um e pudesse escutar tudo).

Mas e um implante que pemitisse plugar o seu celular ou iPod diretamente ao cérebro? Ainda não existe, mas quase. O aparelho, desenvolvido pela empresa americana Cochlear para restaurar a audição de surdos, é uma caixinha que é acoplada ao osso atrás da orelha. Ele capta os sons ambientes e os transforma em vibrações no crânio – que o cérebro da pessoa converte em som. Também dá para plugar diretamente um telefone ou toca-MP3, com um cabo comum. A desvantagem, antes que os entusiastas da música se animem, é que o aparelho custa US$ 34 mil – e exige a fixação de um parafuso na cabeça.

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Também não vamos ouvir como os animais. Um ser humano normal consegue ouvir frequências entre 20 Hz (equivalentes a um som muito grave) e 20 mil Hz (extremo agudo). Perto de outros animais, isso não é nada. Um cachorro ouve até 45 mil Hz, os ratos chegam a 76 mil, os morcegos e as baleias passam de 100 mil. Em tese, é possível criar um aparelho que capte esses sons e os transforme em frequências audíveis por nós. Mas resultaria num barulho enlouquecedor. E a verdade é que isso provavelmente não é necessário. Os seres humanos do futuro poderão ter outra capacidade invejável e geralmente atribuída aos animais: o sexto sentido.

Supervisão

Como os cegos poderão voltar a ver – e quem já vê poderá enxergar no escuro

1. Chip na retina

O primeiro passo é a instalação de um chip com tecnologia CCD dentro da retina. Sua grande inovação é a capacidade de transformar os pixels da imagem formada em impulsos elétricos que passam pelo nervo óptico e podem ser compreendidos pelo cérebro.

2. Bateria

Para que ele faça tudo isso, precisa ser alimentado com energia. Os primeiros modelos usavam uma bateria que o usuário carregava num cordão pendurado no pescoço. Mas há um esforço para miniaturizá-la, tornando-a mais discreta e fácil de carregar.

Visão artificial – como é hoje

O chip produz uma imagem em preto e branco e com apenas 38 x 40 pixels de resolução. É algo muito grosseiro, que só permite a percepção de formas mais genéricas – mas pode fazer toda a diferença para quem perdeu a visão.

Visão artificial – no futuro

Com a ampliação da resolução, a visão artificial será mais poderosa que a humana, tanto na acuidade (capacidade de identificar detalhes sutis) quanto no alcance. E o chip é capaz de registrar luz infravermelha – o que permite enxergar no escuro.

Mais um sentido

Estudos recentes indicam que determinados animais, como pássaros, vacas e raposas, têm, sim, um sexto sentido – além de ter visão, audição, tato, olfato e paladar, eles também são capazes de sentir o campo magnético da Terra. As aves migratórias utilizam essa capacidade para se orientar em seus voos pelo mundo. As raposas usam para caçar. E as vacas? É uma incógnita – mas elas apresentam a estranha tendência de, ao pastar, ficarem viradas exatamente para o norte ou para o sul.

E o mais incrível é que, aparentemente, o cérebro humano é capaz de algo parecido. O cientista cognitivo Peter König, da Universidade de Osnabrück, na Alemanha, desenvolveu um cinto com 13 placas sensíveis ao campo magnético da Terra. Sempre que uma dessas placas fica apontada para o norte, ela vibra. É uma espécie de bússola.

Voluntários usaram esse cinto durante 6 semanas. Sabe o que aconteceu? Em pouco tempo, um deles desenvolveu um instinto natural de direção – passou a ser capaz de sempre apontar a direção da sua casa, mesmo em lugares onde jamais esteve e mesmo sem usar o cinto. Ou seja: seu cérebro incorporou, não se sabe como, alguma capacidade de se orientar pelo campo magnético da Terra. “Foi meio estranho no começo”, disse Udo Wächter, o voluntário, à revista Wired. “Mas de repente notei que minha percepção havia mudado. Eu sentia que não tinha como me perder, mesmo num lugar completamente novo.” Também há casos de pessoas que implantaram um pedaço de metal em um dedo da mão e se tornaram capazes de sentir o magnetismo emitido por eletrodomésticos (computador, geladeira etc.). São bons exemplos de como o cérebro funciona: ele é mesmo um computador capaz de aceitar upgrades. Até mesmo algo que poderíamos chamar de “telepatia assistida”. O avanço vem de pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, que construíram um computador capaz de ler pensamentos. Ou quase isso.

A máquina aprendeu a associar determinados pensamentos a padrões de atividade cerebral – e, depois de algum tempo, conseguia decodificar o que as pessoas estavam pensando (veja no infográfico ao lado).

O sistema só consegue ler a mente de uma pessoa se ela estiver extremamente concentrada, o que nem sempre é fácil. “Às vezes o estômago de um voluntário roncava, ele pensava ‘estou com fome’, e isso embaralhava a máquina”, explica o cientista americano Tom Mitchell, coordenador do estudo. Num futuro não muito distante, o seu computador poderá ler seus pensamentos e transmiti-los a outras pessoas.

A flexibilidade é quase infinita. “O cérebro aprende a gerenciar tudo, como se tivesse um braço a mais no corpo”, diz o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Isso significa que o traje do Doutor Octopus, aquele inimigo do Homem-Aranha com braços robóticos, é mais que uma fantasia de quadrinhos. Ele é real. E a armadura do Homem de Ferro também.

Telecinese

Como uma máquina já consegue ler os seus pensamentos – e poderá dar a você novos poderes

1. Captação

A pessoa recebe um implante de eletrodos no cérebro (hoje inseridos cirurgicamente, mas no futuro apenas colados na cabeça). Ela é instruída a não pensar em nada – deve deixar a mente o mais vazia possível para que o computador consiga identificar e ignorar o ruído elétrico natural do cérebro.

2. Treinamento

O indivíduo pensa em alguma coisa: um gesto, como o ato de mover um braço, ou uma ordem (“pegar água”, por exemplo). Enquanto isso, a máquina analisa sua atividade neural – mapeando as conexões que surgem entre os neurônios. O processo é repetido dezenas de vezes.

3. Reprodução

O computador aprende a identificar os pensamentos para os quais foi treinado, e passa a responder a eles. A pessoa pode mover um braço mecânico ou dar ordens a máquinas simplesmente pensando. Num futuro mais distante, a tecnologia também poderá permitir a telepatia com outras pessoas.

Roupa nova

A empresa Raytheon (fabricante dos famosos mísseis americanos Patriot e Tomahawk) já está testando o XOS: um exoesqueleto que dá força sobre-humana a quem o veste. Com esse traje, você consegue carregar facilmente um homem nas costas ou levantar pesos com centenas de quilos. Tudo isso sem perder a flexibilidade dos movimentos naturais – o XOS permite que o usuário faça gestos delicados e complexos, como chutar uma bola ou subir escadas.

Basta se mexer naturalmente. Sensores instalados no exoesqueleto captam os seus movimentos e os reproduzem nos braços e nas pernas robóticas. O aparelho está sendo desenvolvido para o Exército americano. A ideia é que os soldados utilizem os exoesqueletos, que poderiam ser blindados, em situações de combate. O XOS ainda não está pronto para a guerra: os motores que movimentam seus membros gastam muita energia, e por isso as baterias do aparelho duram no máximo 40 minutos.

Mas há exoesqueletos que parecem mais próximos da viabilidade comercial. Pesquisadores da Universidade de Tsukuba, no Japão, desenvolveram uma série de protótipos designados pela sigla HAL (Hybrid Assistive Limb, ou Membro Assistente Híbrido). O HAL 3 é um exoesqueleto que só serve para dar mobilidade às pernas. Já o HAL 5, mais moderno, inclui todos os membros. Usando esse traje, uma pessoa pode erguer 5 vezes o peso que consegue carregar. O projeto quer melhorar a mobilidade de paraplégicos e idosos e também ajudar trabalhadores que precisam usar a força física (em setores como mudanças e construção civil, por exemplo). Para testar a utilidade da invenção, os japoneses já estão alugando algumas unidades. Interessado? Procure a empresa Cyberdyne (cyberdyne.jp), que cobra o equivalente a US$ 2 300 por mês pelo aluguel do exoesqueleto. Achou caro demais? A versão menor, que só aumenta a força das pernas, é alugada por US$ 1 500 mensais.

Também há outros concorrentes, que incluem desde gigantes da pesquisa acadêmica, como a Universidade da Califórnia e o MIT (Massachusetts Institute of Technology), a empresas como Honda e Lockheed Martin. Há quem acredite que esses trajes possam nos ajudar a explorar outros planetas, como Marte ou as luas de Júpiter. Na Terra, eles vão mudar a sociedade.

Exoesqueleto

O supertraje que está sendo desenvolvido pelo Exército dos EUA

1. Sensores

Colocados em pontos estratégicos do corpo, nos braços e nas pernas, eletrodos detectam os sinais elétricos que são gerados pelos músculos da pessoa quando ela se mexe e transferem para o computador de bordo.

2. Computador

Interpreta os gestos da pessoa e transforma-os em movimentos. Também pode agir sozinho para proteger o usuário (o exoesqueleto pode ser programado para voltar automaticamente a um local predefinido caso a pessoa se perca ou se machuque).

3. Força

Uma rede de motores hidráulicos muito fortes movimenta os membros do exoesqueleto. Isso permite que o usuário carregue peso bem superior ao seu – sem perder a capacidade de fazer movimentos mais delicados, como subir uma escada ou chutar uma bola.

4. Eletricidade

Os motores exigem muita energia. As melhores baterias disponíveis hoje só conseguem alimentar o sistema por 40 minutos. Por isso, o exoesqueleto costuma ficar ligado à tomada durante os testes. A meta é desenvolver uma versão com autonomia de 8 horas – o que só deve acontecer em 2020.

Ter ou não ter

Os aparatos tecnológicos que podem aprimorar as habilidades e a sensibilidade do corpo estão a uma esquina de distância no futuro. Serão uma revolução médica sem precedentes. Mas a grande pergunta é: os humanos, tão identificados com seus corpos, trocariam voluntariamente suas “peças” naturais por dispositivos eletrônicos, convertendo-se em ciborgues?

Por mais estranha que essa ideia pareça, talvez ela seja só uma convenção cultural. Hoje mesmo já há gente disposta a trocar sua mão de verdade por uma artificial, mesmo que o órgão esteja ali, intacto. É o caso de Milo. É verdade que seu membro já não funcionava mais, por causa de uma ruptura dos nervos. Mas ainda estava ali, inteirinho. A operação foi feita pelo cirurgião Oskar Aszmann, da Universidade de Viena.

Alguns médicos criticaram Aszmann, dizendo que ele deveria ter tentado recuperar a funcionalidade da mão natural – e não simplesmente cortá-la fora. Aszmann se defende alegando que, para o paciente, é melhor ter uma solução parcial do que esperar a vida toda por uma técnica melhor que talvez nunca venha. E Milo se diz satisfeito.

Se hoje, mesmo com toda a controvérsia e com tecnologias primitivas, já há gente optando por trocar um órgão natural por uma versão artificial, quando as tecnologias estiverem ainda mais avançadas, a tendência será de aumento. Depois de décadas assistindo a coisas como essas no cinema, ao menos uma parte da população não se assusta com a ideia de pessoas parte humana, parte máquina.

Se aplicações dessas tecnologias estão muito próximas para uso militar ou espacial, quando elas estarão todas a serviço do cidadão comum? Segundo o físico e futurólogo Michio Kaku, da Universidade de Nova York, não vai demorar. “Eu não ficaria surpreso de ver tecnologias de fabricação de órgãos implementadas nos próximos 10 a 20 anos”, diz.

Como todas as novidades da medicina, os upgrades do corpo humano nascerão caros. Ou seja: no começo, só quem tiver (muito) dinheiro poderá pagar por eles. Será que isso poderá criar uma divisão de castas na humanidade, entre os “melhorados” e os “não melhorados”? Kaku acredita que o poder econômico terá um papel claro na nova era. “Lojas de peças para o corpo humano, por assim dizer, podem surgir logo, logo.”

A humanidade terá que enfrentar um longo debate ético para minimizar essas diferenças e decidir o que é socialmente aceitável ou não – como já está acontecendo hoje nos campos da clonagem e das terapias genéticas. Talvez cheguemos a um ponto de equilíbrio. Ou talvez o mundo do futuro seja dividido pela tecnologia. Só existe uma certeza: o corpo humano será incrivelmente diferente do que é hoje. E isso não vai demorar.

Para saber mais

Visões do Futuro

Michio Kaku, Rocco, 2001.

Brain-Computer Interfaces

Theodore W. Berger e outros, Springer, 2008.

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