Uma sede fixa para Copa e Olimpíadas
Chega de entregar os jogos para uma nova cidade a cada edição. É hora de as competições fincarem a bandeira em um só lugar
Charles Banks-Altekruse*; Ilustração: Caio Gomez
A Europa está se desdobrando para remediar a crise econômica da Grécia. Até porque essa crise já se alastrou por outros países do Velho Continente e abalou o poder do euro. Foi por um motivo simples que a coisa chegou a esse ponto: os gregos gastaram mais do que podiam, gerando uma dívida pública de mais de € 300 bilhões.
Parte dos gastos aconteceu em 2004, quando Atenas sediou a Olimpíada. Para preparar-se, a capital desembolsou US$ 14 bilhões. Esse gasto provavelmente contribuiu para os problemas econômicos que vemos hoje. Isso já aconteceu antes: em 1976, por exemplo, os Jogos de Montreal custaram 400% mais do que o previsto. A cidade quase foi à falência e precisou de 30 anos para pagar as dívidas.
A culpa é do rodízio de sedes das competições esportivas. Por causa desse sistema, as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol criaram uma máquina eterna de reforma e construção. As sedes são obrigadas a investir em centros de competição que ficarão abandonados em poucos anos. E deixarão uma coleção de dívidas. Os Jogos de Pequim exigiram US$ 40 bilhões, e muitas das instalações erguidas com o dinheiro já estão fechadas. Precisamos de um novo modelo, que dê sede fixa a Copa e Olimpíadas.
Como? Uma ideia é manter os Jogos em um país, edição após edição. A própria Grécia fez essa proposta para as Olimpíadas no fim do século 19, reivindicando o posto de anfitriã. Outra opção: um grupo de 5 sedes permanentes (uma para cada anel do símbolo olímpico). Essas cidades, somente, fariam um rodízio entre si para abrigar os Jogos.
A experiência e a estrutura criada pelas sedes evitariam problemas financeiros. E trariam um benefício para os atletas. Pular de país para país faz com que eles tenham de se preparar sempre para condições diferentes de competição. Na Olimpíada de Vancouver, encerrada em março, um competidor georgiano de luge (esporte em que se desce uma pista de gelo com um trenó) morreu depois de perder o controle em um treino e ser jogado para fora da pista. O percurso da competição era tido como rápido demais, e atletas estrangeiros tiveram acesso limitado para treino pela organização. Além disso, os competidores são vítimas das relações mal resolvidas entre países. Pergunte aos atletas que não competiram por causa dos boicotes. Em 1980, eu fazia parte da equipe americana de remo que iria aos Jogos de Moscou. Mas fiquei em casa, como 466 outros atletas americanos, numa ação em repúdio à invasão do Afeganistão pelos soviéticos.
Fincar a bandeira das Olimpíadas em um só lugar seria a chance de criar Jogos mais sustentáveis, sem transformar a competição em uma ameaça para a economia das sedes e do mundo. E de dar valor ao sonho olímpico dos atletas. Como o meu.
* Charles Banks-Altekruse é ex-atleta da equipe olímpica de remo dos EUA e fundador da CA Consulting, consultoria de comunicação. Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.