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Messi na Portuguesa

Clubes brasileiros nunca pagaram tanto aos seus atletas. Enquanto isso, os times europeus se afogam em dívidas. Sim: vamos ter cada vez mais craques jogando aqui. Mas estamos no caminho errado

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h15 - Publicado em 24 out 2010, 22h00

Alexandre Versignassi e Alexandre Carvalho dos Santos

Alguma coisa está fora da ordem. Messi ganha R$ 1,9 milhão por mês no Barcelona. Ronaldo tira R$ 1,8 milhão no Corinthians. Neymar ficou. O Chelsea ofereceu R$ 600 mil mensais. O Santos rebateu com R$ 305 mil mais ganhos com publicidade que podem dobrar esse valor. Sim. Algo está mudando no futebol brasileiro. Em 2010, quase ninguém de expressão foi embora. Pelo contrário. Deco, ex-Chelsea, veio ganhar R$ 550 mil no Fluminense.

E não é só a valorização do real que conta. Os salários não param de subir. Em 2009, segundo a revista Placar, o ex-flamenguista Adriano era o 2º jogador mais bem pago do país, atrás do Fofômeno, com R$ 362 mil. Hoje esse contracheque seria apenas o 6º do futebol brasileiro.

Enquanto isso, o gás financeiro do futebol europeu está começando a entrar na reserva. A começar pelo campeonato mais rico do mundo. Os times da 1ª divisão da Inglaterra gastaram, em média, 67% do seu faturamento só com salários de jogadores e comissão técnica na última temporada. No Brasil a situação é menos insalubre: os 10 times que mais gastam tiveram uma receita somada de R$ 1,2 bilhão em 2009. Neste ano, mesmo com as novas contratações, vão ter depositado R$ 480 milhões em salários. Ou seja: se o faturamento for o mesmo de 2009, o que é uma hipótese até pessimista, só 40% do total será gasto com salários.

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A ideia de que o futebol europeu é bem administrado não faz sentido nem nunca fez. Segundo um levantamento da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) junto a 650 clubes de 1ª e 2ª divisões do continente inteiro, 47% dos times europeus dão prejuízo. E a dívida conjunta deles chega a R$ 15 bilhões. Quanto maior o time, maior a dívida. E, se ele for vitorioso, pior ainda. O Manchester United sozinho deve R$ 2 bilhões – o mesmo que a soma das dívidas dos 8 clubes brasileiros mais pendurados (o Fluminense, de elenco milionário, é o nosso campeão aí, com R$ 329 milhões negativos na praça).

Em compensação, venceu uma Copa dos Campeões e 3 campeonatos ingleses nos últimos 5 anos. Ou seja, desempenho em campo não tem nada a ver com lucro. Pelo contrário. Para ter um time mais forte, é preciso gastar mais. E aí… Mas se os times são uma tragédia financeira, como é que conseguem pagar salários astronômicos? Simples: com bons padrinhos. Um xeque de Abu Dabi é dono do Manchester City, o bilionário russo Roman Abramovich banca o Chelsea, Silvio Berlusconi, imperador da Itália, segura o Milan…

Aqui estamos indo pelo mesmo caminho. Um acionista da Sadia acaba de bancar sozinho quase 40% da compra do meia Valdívia para o Palmeiras. E a torcida do Fluminense pode agradecer ao pediatra Celso Barros, presidente da Unimed-Rio e tricolor apaixonado, pela liderança do Brasileirão. Em 12 anos de parceria, a empresa já despejou R$ 200 milhões no clube. Delcir Sonda, magnata do varejo e colorado roxo, ajudou o Inter a ganhar a Libertadores.

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Tanto lá como aqui os clubes são mal administrados e endividados. A diferença, agora, está na economia. Enquanto o PIB do Brasil aponta para um crescimento de 9% ao ano, o dos países europeus está estagnado. Hoje nossa economia já é maior que a da Espanha. Na próxima década, deve ultrapassar a da Itália. Se a economia cresce, o futebol vai junto: a previsão é de que os times brasileiros dobrem suas receitas com publicidade e patrocínio até 2014. Isso sem falar no dinheiro a mais que os mecenas terão para torrar com seus times. Ótimo, não? Nem tanto. O modelo, afinal, é falido. Depender de mecenato e se empanturrar de dívidas é um negócio sem futuro.

O bom exemplo, no entanto, vem também da Europa. Da Alemanha, no caso. Na temporada 2008/2009, o lucro da Bundesliga subiu 25%, chegando a R$ 388,5 milhões – o maior da Europa, mesmo sem as receitas titânicas do futebol inglês, italiano ou espanhol. O sucesso financeiro vem de um controle rígido sobre os clubes, que só podem gastar o que têm. Com isso, os times deram preferência a investimentos em suas categorias de base, algo bem mais barato que partir para contratações milionárias. O resultado foi visto na copa: um time de garotos que praticamente saiu da África do Sul como campeão moral. E todos jogavam em território alemão.

O Brasil já faz um trabalho bom nas bases – bricadeira do título à parte, a própria Portuguesa formou seu Messi num passado nem tão remoto (Dener). Temos tudo para nos dar bem num modelo assim. Que deixemos de ser colônia no futebol, então. Mas com bom senso.

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