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Pela primeira vez, cirurgiões transplantam rim de porco em um humano

A cirurgia ocorreu bem – o órgão já está funcionando e o paciente deve receber alta em breve. Mas ainda é preciso esperar um tempo antes de comemorar.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 21 mar 2024, 19h06 - Publicado em 21 mar 2024, 19h00

Cirurgiões americanos transplantaram, com sucesso, o rim de um porco geneticamente modificado em um humano. A operação inédita até então foi feita no último sábado (16) e divulgada pelo hospital, o Massachusetts General Hospital, hoje (21). Até o momento, o paciente reagiu bem ao transplante.

A função básica do rim você deve conhecer: ele é o órgão do nosso corpo responsável por filtrar o sangue de materiais nocivos, que são expelidos pelo corpo na forma de urina. Se o seu rim parou de funcionar, esse processo fica comprometido. Existem duas soluções: uma diálise, em que o excesso de líquido e as substâncias indesejadas são retiradas artificialmente, ou um transplante renal, em que um rim novo e funcional vai fazer esse trabalho.

Geralmente, a diálise é uma solução temporária para quem está na fila para um rim novo. O paciente, um americano de 62 anos chamado Richard Slayman, recebeu o transplante depois de anos com diabetes e pressão alta. Quando os seus rins começaram a falhar, ele foi submetido a diálise durante sete anos. Em 2018, recebeu um transplante, mas teve de voltar para a diálise em maio de 2023 depois que o órgão doado parou de funcionar. Ele sofreu complicações da diálise, incluindo vários coágulos sanguíneos que exigiram hospitalização e cirurgia.

Vivendo com insuficiência renal e em tratamento durante anos, Slayman recebeu a proposta de ser o primeiro a receber um transplante novo para a ciência.

Fornecido pela empresa de biotecnologia americana eGenesis, o novo rim de Slayman foi retirado de um porco geneticamente modificado. Usando a técnica CRISPR-Cas9, os cientistas removeram 3 genes suínos que poderiam causar a rejeição do órgão e adicionaram 7 genes humanos para melhorar sua compatibilidade. Além disso, porcos carregam retrovírus que podem infectar humanos, então os cientistas os inativaram para diminuir a chance de infecção.

Ano passado, pesquisadores da eGenesis e o Massachusetts General Hospital publicaram um estudo conjunto na revista Nature. O artigo descreve o design, a criação e o suporte à vida a longo prazo do rim – naquela pesquisa, testado em um primata. O processo deu certo, e os pesquisadores estavam um passo mais perto de um teste com humanos.

Depois de explicado o procedimento e devido a sua confiança no tratamento do hospital, Slayman topou ser voluntário.

“Eu vi isso não apenas como uma forma de me ajudar, mas uma forma de dar esperança a milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver”, disse ele em comunicado fornecido pelo Massachusetts General Hospital.

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Segundo os médicos, ele está se recuperando bem e deve ser liberado em breve. Pouco depois da cirurgia, seu rim suíno já começou a produzir urina. Slayman parou com a diálise e já consegue andar pelo hospital.

Os transplantes de órgãos de animais para humanos, também conhecidos como xenotransplantes, podem ser uma solução para as longas filas de espera por doações de órgãos. Nos EUA, onde foi realizado o transplante, mais de 100 mil pessoas nos EUA aguardam sua vez na lista – e os rins são os órgãos mais requisitados. No Brasil, 65 mil pessoas aguardam um órgão – 38 mil, por um rim.

Os xenotransplantes não são exatamente uma novidade. Em 2021, foi realizado um transplante semelhante a esse, feito com um rim de porco em um humano. Com uma grande diferença, porém: ele foi feito com um paciente que tinha morte cerebral – em suporte artificial de vida e sem possibilidade de recuperação. Foi mais um teste para verificar se ele funcionaria como um rim humano, e deu certo.

Outros órgãos de porcos modificados já foram usados: dois transplantes de coração foram feitos para pacientes com doenças cardíacas. Embora os corações tivessem funcionado bem e não tivessem sinais de rejeição no início, os dois pacientes, que tinham doenças avançadas, morreram dois meses e um mês e meio depois da cirurgia. (Em geral, voluntários de xenotransplantes estão em estado terminal e têm poucas ou nenhuma outra opção – muitas vezes não são elegíveis para transplantes de órgãos humanos por seu estado de saúde crítico.)

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Por conta disso, as próximas semanas do novo paciente transplantado serão essenciais para o futuro dessa técnica. Se for bem-sucedida, pode trazer esperança a várias pessoas que sofrem com insuficiência renal em todo o mundo.

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