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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Entenda o que a maquiagem dos dados da Covid esconde

Mais: veículos de comunicação deixam de usar dados do Ministério da Saúde. Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, G1 e UOL formam um consórcio para checar por conta própria junto às Secretarias de Saúde dos Estados.

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Atualizado em 8 jun 2020, 19h17 - Publicado em 8 jun 2020, 15h43

O governo federal divulgou dados díspares sobre o número de morte por Covid-19 na noite de domingo. Num primeiro boletim, contabilizaram 1.382 mortes nas últimas 24 horas. Pouco depois, enviaram uma “correção”, baixando o número de óbitos para 525 – 62% a menos.

É mais um caso que dá força à interpretação corrente: a de que o governo federal passou a maquiar os dados relativos à Covid, tentando diminuir artificialmente o número de mortos.

Começou quando o Brasil chegou ao seu recorde de mortos por dia. Foi na última quinta, dia 4, quando foram contabilizadas 1.473 mortes por Covid – ultrapassando a marca psicológica de um óbito por minuto.

A reação do governo foi mudar o sistema de contagem. Até ali, o Ministério da Saúde fazia como todos os países fazem: se alguém morre na terça, mas o diagnóstico de morte por Covid só vem na quinta, o óbito entrava na contabilidade da quinta. Agora não. Se a notificação de Covid chega na quinta, o paciente que morreu na terça fica de fora da contagem.

“Mas então é só pegar o total de mortos e fazer as contas, certo?”, perguntaria o leitor. Certo. O problema é que o Ministério da Saúde também deixou de divulgar o histórico de mortos. Dá para seguir a contabilidade, pegando os dados diretamente com as Secretarias de Saúde dos Estados. Mas, claro, isso não diminui o fato de que o Ministério da Saúde decidiu ir na contra-mão do resto do mundo, e mudar o sistema de contagem com o bonde andando – ainda mais num cenário em que esse dados servem de base para os Estados e municípios determinarem como será a saída das quarentenas.

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O Ministério disse que os números conflitantes do domingo aconteceram por conta de erros na contabilidade de alguns estados. A suspeita, porém, é a de que as 1.382 mortes divulgadas primeiro tenham sido pelo critério antigo, e as 525 pelo novo. Não há até o momento uma resposta oficial do Ministério sobre quais foram os erros que levaram à divulgação trôpega.

Logo após o recorde, vale lembrar, já tinham divulgado uma baixa de 30% no número oficial de mortes para os dois dias seguintes (sexta e sábado), culminando com a queda ainda mais pronunciada no domingo.

Além disso, o governo pretendia fazer uma recontagem dos números passados, visando diminuí-los. O maior advogado dessa revisão era o empresário Carlos Wizard, que estava prestes a assumir um cargo no Ministério. A repercussão negativa, porém, criou um movimento de boicote às empresas de Wizard – e ele decidiu pular fora do governo neste domingo. Agora o Ministério não confirma se vai ou não praticar o revisionismo.

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Tudo isso minou a credibilidade dos dados do Ministério. E agora uma série de veículos de comunicação deixará de utilizá-los como fonte. Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, G1 e UOL formaram um consórcio para checar os dados por conta própria junto às Secretarias de Saúde dos Estados. O primeiro resultado dessa iniciativa sai hoje, às 20h.

Mesmo assim, nada impede que Estados alinhados ao governo federal também passem a suavizar maquiem seus números, de modo que eles mostrem algo mais parecido com a realidade cor-de-rosa que o Presidente da República deseja impôr. É o que aconteça quando a ciência e a saúde se tornam ferramentas políticas: deixa de haver ciência, o que faz um mal danado para a saúde.

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