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Por que temos a ilusão de ouvir vozes chamando quando a música está alta?

Seu cérebro é ávido por padrões e coisas familiares – e gosta de encontrá-los até onde eles não existem.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 jul 2023, 17h37 - Publicado em 16 abr 2021, 09h51

Quando as frequências de alguma música nos seus fones, por acidente, lembram as da sua mãe gritando “tá na mesa!”, seu cérebro, ávido por padrões, preenche as lacunas e gera o chamado fantasma. A audição não é só um processo mecânico: envolve um bom grau de interpretação e predição por parte do sistema nervoso.

Vamos explicar melhor. Um meme de YouTube que explodiu em 2015 ajuda a entender por que seu cérebro inventa esses sons onde eles não existem.

Na época, músicos pegavam canções pop e convertiam os arquivos MP3 para um formato chamado MIDI. O MIDI é tipo o arquivo Word (.docx) das partituras. Você toca uma nota Ré no teclado e o Ré aparece na partitura lá na tela do PC. Agora, você pode dar play na partitura e ouvir o Ré com sons sintetizados.

O problema de converter um MP3 para MIDI em vez de você mesmo “digitar” a partitura é o mesmo de pedir para um computador transcrever uma pessoa falando: ele não tem a capacidade interpretativa do nosso cérebro, e só transforma cegamente cada frequência detectada em uma nota.

O resultado é uma maçaroca que lembra vagamente a música original. A graça do meme é que o seu cérebro, conhecendo a música e vendo cenas do clipe, reconhece essas frequências e gera a ilusão de que você está ouvindo os vocais originais no MIDI, onde eles não existem mais.

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Faça o teste (você foi alertado: a cacofonia é grande, então vá com calma no volume).

Pergunta de @vini.pellin, via Instagram.

Fonte: Guilherme Delmolin, pesquisador, membro do Grupo de Estudos em Neurociência da Linguagem e Cognição (GELC) e do projeto Neurociência e Música na UFABC.

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