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‘Make America great again’: a ciência explica o sucesso do slogan

36% dos norte-americanos confundem o auge da história dos EUA com a própria juventude — e veem em Trump uma promessa de voltar aos bons tempos

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 nov 2017, 14h31 - Publicado em 1 nov 2017, 14h15

Minha mãe adora a década de 80. Ela ficava na calçada com as irmãs ouvindo a “dose dupla” da Rádio América até tarde; uma fita cassete com Echo & the Bunnymen e Depeche Mode circulava na vizinhança; o Lulu Santos tocava no Olympia três noites seguidas. É cada história tão boa de ouvir que eu entrei em negação quando cheguei no ensino médio e descobri como era o Brasil naquela época. Figueiredo! Inflação incontrolável! Sarney!

Agora estamos em 2017, e quem tem 20 e poucos anos sou eu. Apesar do presidente ser o Temer (!), eu sou feliz o suficiente para entender minha mãe: as memórias formadas na juventude são um negócio poderoso. Tão poderoso que um artigo científico publicado nesta semana por psicólogos da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia, atribui parte do sucesso de Trump à sua capacidade de gerar um surto de nostalgia coletiva na parcela mais velha da população norte-americana.

A explicação, é claro, começa no slogan “torne a América grande de novo”. Afinal, para ser grande “de novo”, a América precisa ter sido grande um dia. E esse dia… bem, ele é relativo. Uma pesquisa de opinião publicada no The New York Times em abril de 2016 (veja aqui) revelou que o ano favorito de eleitores de Trump de várias idades é praticamente qualquer ano entre 1940 e 2000 – tudo depende do entrevistado. Há alguns picos, sem dúvida: 2000 foi mencionado mais que a média, talvez por ser uma ilha de otimismo e Bush entre a Guerra Fria e os atentados de 11 de Setembro. 1985 também é popular eu gostaria de pensar que foi por causa do lançamento do disco Little Creatures, do Talking Heads, mas a verdade é que, em 20 de janeiro daquele ano, o republicano Ronald Reagan começou seu segundo mandato.

Em resumo, o slogan é bom porque é relativo. Deixa todo mundo, do avô ao neto, escolher qual foi o ano mais próspero dos EUA com base em critérios completamente particulares (e torcer para o país voltar àquele ponto exato do tempo, feito a ilha de Lost). O que levanta outra questão: quais são, em média, esses critérios?

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É aí que entra o estudo. Os neozelandeses começaram perguntando a uma amostra de 100 norte-americanos quais eventos históricos foram decisivos para os EUA. A ideia era produzir uma lista bem objetiva e “escolar”, com marcos óbvios como a assinatura da Declaração de Independência, a Guerra de Secessão e a 2º Guerra Mundial – e usá-la de referência para o que viria depois.

O próximo passo foi chamar outros 496 voluntários (de diversas orientações políticas e com idades entre 19 e 84 anos) e perguntar, na opinião deles, qual havia sido o ano de maior destaque e grandeza para o país. Só 40% responderam usando um dos eventos da lista anterior. E 36% deles mencionaram anos que ocorreram entre suas datas de nascimento e seus aniversários de vinte anos. Ou seja: um terço dos cidadãos não consegue separar a história do país das próprias memórias – e têm certeza de que os EUA era melhor quando eles eram jovens, mesmo que a juventude de pessoas diferentes corresponda a diferentes períodos históricos.

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“Nossas descobertas sugerem que Donald Trump pode ter dificuldades em tornar a América grande de novo, porque os norte-americanos não concordam em quando a América foi grande”, resumem os pesquisadores.

Outros estudos já haviam apontado esse curioso viés da juventude. Neste aqui, voluntários chegam ao ponto de afirmar que há mais chances de que um evento histórico relevante ocorra quando uma pessoa aleatória tem algo entre 11 e 30 anos — mesmo que em qualquer ponto da história haja pessoas de todas as idades vivendo simultaneamente. Não faz sentido, é claro, mas a ideia de que os vinte anos são os “bons tempos” é mais forte que o pensamento racional.

O fenômeno é uma lição de retórica política: apelar para os anos em que conhecemos nossos melhores amigos, discos e amores – e construímos nossa identidade cultural – é um jeito fácil de conquistar a simpatia de pessoas que não estão satisfeitas com o presente. “Pelo menos na época do Sarney tocava A-ha no rádio”, diria minha mãe, sem dúvida. “A gente era pobre mas era feliz.”

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