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A Fenda do Bikini foi campo de testes nucleares – e ainda é radioativa

O que o Bob Esponja tem a ver com bombas nucleares dos anos 50? Resposta: radiação.

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h58 - Publicado em 8 jun 2016, 15h45

Precisamos falar sobre o Bob Esponja. Já parou para pensar que ele e seus amigos são criaturas do mar que conversam, trabalham e até andam de carro? Tudo bem, você pode dizer que ele é só um desenho animado, mas aqui vai uma bomba nuclear direto na sua infância: Bob mora no fundo de um campo submarino de testes nucleares de verdade, o Atol de Bikini, onde os Estados Unidos testaram 23 bombas nucleares entre 1946 e 1958. Toda essa radiação pode ser a explicação para a existência da turma da Fenda do Bikini na ficção, mas, na vida real, ela é ameaçadora. E, ao contrário do que pensavam os cientistas, permanece perigosíssima mesmo depois de tantas décadas.

Isso é o que mostra um novo estudo publicado na revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos (PNAS): mesmo depois de 58 anos, o material que sobrou das explosões continua com níveis perigosos de radiação. Hoje, 184 millirems ainda são liberados por ano na Fenda do Bikini – “rem” significa “Roentgen equivalent in man”, e é a unidade usada para medir a dose de radioatividade absorvida pelo homem ou por outros mamíferos em determinado lugar. O número surpreendeu os cientistas, já que, nos anos 1970, quando a última medição foi feita por um time da Universidade de Columbia, imaginava-se que a o perigo fosse diminuindo aos poucos. A hipótese era que o índice atual fosse estar entre 16 e 24 millirems.

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Se vivêssemos no universo dos quadrinhos e dos desenhos animados, o Bob Esponja poderia até ganhar superpoderes com uma radiação tão alta assim. Mas a realidade é mais dura. De 1948 e 2011, a universidade de Cambridge estudou 200 mil sobreviventes dos ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki, e concluiu que, se uma pessoa passar a vida exposta a 1 rem (mil vezes mais que 1 millirem) de radiação, ela terá uma chance cinco ou seis vezes maior de morrer de câncer. Se a gente imaginar que uma pessoa vive 70 anos, e que ela recebe, por ano, 184 millirems de radiação, durante a vida toda, ela vai ter recebido 12.880 millirems – 12 vezes mais radiação do que o ponto de partida estabelecido pelo estudo de Cambridge como a quantidade-base de perigo.  Ah, e detalhe: em 1970, os Estados Unidos e a República das Ilhas Marshall (que controla a fenda) estabeleceram que uma radiação de 100 millirem por ano já representaria um grande perigo para a saúde.

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Mesmo assim, em 1997, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), órgão dos EUA que determina os níveis seguros de radiação, definiu que já era seguro caminhar nas ilhas afetadas, dizendo que o risco de contaminação só era grande na alimentação. E, em 2010, o atol foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, por conservar evidências do poder das armas nucleares – mas, por enquanto, só mesmo a galera do Bob Esponja pode morar por lá sem riscos de desenvolver câncer.

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Uma história bombástica
Em julho de 1946, os Estados Unidos estavam em festa depois de vencer a Segunda Guerra Mundial. Usando bombas nucleares e matando milhares de pessoas em Hiroshima e Nagasaki, eles conseguiram a rendição japonesa. Até então, o poder dessas armas nunca havia sido visto e, por isso, o Pentágono decidiu que era sua função testá-lo – também há quem diga que tudo não passou de uma demonstração de força para assustar os soviéticos.

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Eles procuraram uma parte do mundo que, no julgamento deles, era quase totalmente desabitada para os testes e encontraram o lugar perfeito: o Atol de Bikini, no Oceano Pacífico. Um atol é uma ilha formada por corais. Ela tem um formato de anel e, em seu centro, se forma uma lagoa marinha. Foi ali que os americanos resolveram fazer seus testes. 

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Só que a ilha não era desabitada coisa nenhuma: ela tinha cerca de 200 moradores, que tiveram de se mudar de lá, e ir para o Atol de Rongerik. O primeiro teste foi em julho de 1946, e o segundo, apenas três semanas depois. Até 1958, os EUA jogaram 23 bombas nucleares no atol, sem se preocupar com as consequências ecológicas ou sociais. 

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No começo dos anos 1970, depois de publicado o estudo de Columbia, os antigos habitantes de Bikini voltaram às suas casas – só para encontrar tudo contaminado pela radiação. Em 1978, foram removidos de novo, e, de saco cheio, processaram os Estados Unidos. Eles foram indenizados em 100 milhões de dólares, mas o dinheiro não ajudou em nada, porque a operação de limpeza proposta pelos EUA nas negociações do processo geraria 1 milhão de pés cúbicos de lixo radioativo. E descartar lixo radioativo é caro – bem mais caro que 100 milhões de dólares. 

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