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A física Rita de Cássia investiga a origem de raios cósmicos de alta energia

A #MulherCientista desta semana tenta descobrir se essas partículas espevitadas nascem em galáxias turbulentas, com grande taxa de formação de estrelas.

Por Maria Clara Rossini
16 out 2020, 15h37

Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Até o próximo final de semana! 

Há algumas semanas, falamos aqui no #MulherCientista sobre as galáxias que param de formar novas estrelas. A cientista de hoje investiga o contrário: galáxias com uma taxa de formação de estrelas acima do normal.

Rita de Cássia dos Anjos procura descobrir de onde vêm os raios cósmicos que chegam à Terra diariamente – e a aposta dela é que essas partículas de altíssima energia tenham origem em galáxias que são berçários extremamente ativos. Vamos começar a explicação pelos raios.

Raios cósmicos são núcleos de átomos (ou fragmentos de núcleos) acelerados a uma velocidade próxima à da luz por fenômenos cósmicos violentos. Esses raios podem ser detectados por instrumentos modernos, que determinam a direção de onde eles chegam.

Se os raios cósmicos percorresem linhas retas, seria fácil apontar um telescópio óptico para o céu e descobrir o que está produzindo esses projéteis microscópicos. 

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O problema é que os prótons, uma das partículas que compõem o núcleo do átomo, possuem carga elétrica positiva. Isso significa que eles são atraídos e repelidos por campos magnéticos enquanto viajam pelo Universo, o que altera completamente a trajetória deles.

Essa viagem feita pelos raios cósmicos pode ser dividida em duas partes. A primeira é quando eles estão trafegando fora do perímetro das galáxias, onde não há campos magnéticos tão intensos e a trajetória é razoavelmente preservada.

O maior problema é quando os raios entram na Via Láctea. Daí em diante, há um bocado de corpo celestes com campos capazes de desviá-los, o que torna seu local de origem extremamente nebuloso. 

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É aí que Rita de Cássia entra. A física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) quantifica os ganhos e perdas de energia dos raios para reconstituir seu caminho e encontrar a provável fonte deles. É como tentar descobrir quais ruas um Uber pegou para chegar na porta da sua casa usando dados como consumo de combustível e humor do motorista. 

Para isso, ela trabalha com raios cósmicos de alta energia, que sofrem menos variações. Ao longo da viagem, conforme interagem com obstáculos, eles liberam raios gama e neutrinos. Esses, sim, possuem uma trajetória retilínea – então podem fornecer informações valiosas sobre o rastro dos raios cósmicos que os geraram.

A pesquisadora, como já mencionamos, tem a hipótese de que esses raios partem de galáxias turbulentas, em que há intensa formação de estrelas. 

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Se isso for confirmado, os cientistas teriam uma forma inédita de estudar esses aglomerados de estrelas, já que os raios cósmicos trazem informações sobre a composição de sua fonte e quais processos químicos estão ocorrendo por lá.

“Eu não posso dizer com certeza de onde vêm esses raios. Mas o que eu pretendo, com a minha pesquisa, é adicionar um novo parâmetro, que permita dizer se essas galáxias são mesmo a fonte”, diz Rita. O trabalho da astrofísica foi premiado pelo Para Mulheres na Ciência, da Academia Brasileira de Ciências, L’Oréal e Unesco Brasil.

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