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A maconha salvou minha vida

"Nunca usei maconha na juventude - não via graça nenhuma. O que eu não sabia é que ela me traria até aqui".

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 3 fev 2013, 22h00

Art Cote*

Em 2010, saí de férias com minha mulher. Era maio, lindo tempo para a praia. No primeiro dia de viagem, quando eu esperava num bar para almoçar, o telefone tocou. Era meu médico. Ele falou com calma e sem pausas. “Sr. Cote, infelizmente a biópsia deu positivo. Você tem um carcinoma de células escamosas em seu pescoço, que precisa ser retirado imediatamente.” Fui operado poucos dias depois de voltar a São Francisco, onde moro. Só que ninguém me avisou sobre as consequências da cirurgia.

Os médicos tiraram o tumor, mas me deixaram com uma dor terrível. Eu quase não podia suportar. Na primeira noite, pedi mais analgésicos à enfermeira. Ela disse que eu já havia tomado minha cota de Tylenol, e que portanto teria de esperar até a manhã seguinte. Passei a noite em agonia. No outro dia, fui apresentado à oncologista, que me passou a lista de prioridades: ressonância magnética, radiação e quimioterapia. Dava para ver que seria um caminho difícil.

Na radioterapia, os médicos cobriram meu rosto com uma máscara para queimar as células cancerígenas da região. Entrei em pânico. Foram 33 dias, cinco dias por semana. Durante os dez minutos de cada sessão, eu era como uma salsicha dentro de um micro-ondas. Meu pescoço ardia e as dores ficaram ainda mais intensas. E pior: a radiação literalmente queimou minhas glândulas adrenais – responsáveis pela produção de hormônios esteroides, fundamentais para o funcionamento do corpo. Passei então a ingerir pílulas diárias de esteroides para continuar vivo, que provocaram enjoos e um enorme mal-estar. Era muito difícil comer e dormir. Os médicos me receitaram vários remédios, como a metadona, mas quase não faziam efeito – eu me sentia cada vez pior.

Há cerca de um ano, meus filhos me aconselharam a usar maconha. Por acaso, eles trabalham com maconha medicinal em São Francisco e me recomendaram a droga para reduzir as dores e a ansiedade. Além do tratamento do câncer, a droga tem sido usada para aliviar sintomas de doenças como a aids, artrite, esclerose múltipla, glaucoma e epilepsia. Meu médico me deu a prescrição. Hoje, posso viver como uma pessoa normal. A maconha não eliminou a dor, mas reduziu-a bastante. Numa escala de 1 a 10 (sendo 10 a pior), sinto uma dor de grau 7 quando não uso maconha. Com ela, a dor diminui para 4 ou 5. Consigo comer e dormir a noite toda.

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Consumo a erva geralmente na forma de biscoitos da Auntie Dolores, uma empresa que fabrica produtos comestíveis feitos com maconha medicinal. Isso evita os efeitos colaterais do fumo. Consumo de 4 a 5 mg de canabis de manhã para poder trabalhar. À noite, tomo outros 9 mg para dormir. Felizmente, como não há risco de overdose, meus médicos não estipulam a quantidade. Eu mesmo ajusto a dose até sentir o efeito. E continuo tomando remédios, como a hidrocortisona (esteroide similar ao hormônio produzido pelas adrenais) e a fludrocortisona (para controlar o sódio).

O uso da maconha para fins médicos é legal em apenas 18 dos 50 Estados americanos. E poucos deles realmente aplicaram a lei, como é o caso da Califórnia. Assim, mesmo com prescrição médica, você pode ter muita dificuldade para obter maconha medicinal nos EUA. Eu tive a sorte de viver em São Francisco. Não sei como seria se não tivesse sido assim. Com todos os remédios disponíveis, a única coisa que realmente me ajudou foi a maconha. Ela trouxe minha vida de volta.

*Art Cote, 55, é programador de computação na Califórnia, EUA. Em 2010, ele teve câncer no pescoço. Em depoimento a Eduardo Szklarz.

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