Texto Tiago Cordeiro
Por um bom tempo, todo mundo achou que sim. Sob o efeito da “fada verde” – apelido que remete à cor da bebida anisada –, o escritor Oscar Wilde dizia que via tulipas em suas pernas. Também eram fãs do absinto os escritores Charles Baudelaire e Edgar Allan Poe e os pintores Van Gogh e Toulouse-Lautrec. No começo do século 20, o absinto deixou de ser a musa de artistas visionários para se tornar um líquido maldito, banido de praticamente todos os lugares. Em 1905, quando o fazendeiro suíço Jean Lanfray matou a mulher grávida e as duas filhas depois de duas doses, a bebida passou a ser considerada a responsável por acessos de loucura e cegueira e por crises de epilepsia. Lanfray também tinha bebido um monte de outras coisas, mas na época ninguém deu atenção a esse detalhe.
Mas a resposta é não, ele não provoca alucinações. O absinto é diferente de outras bebidas por dois motivos: a concentração de álcool, que chega a 75%, contra 40% do uísque, e uma substância chamada tujona, oriunda da erva que dá nome à bebida – também conhecida por losna. “A tujona é perigosa porque bloqueia alguns neurotransmissores, mas o absinto não tem quantidade suficiente dela para causar alucinações”, diz o químico holandês Dirk Lachenmeier, autoridade no assunto.
O absinto está liberado na Europa desde 1988 e, mesmo nos países em que continua banido, como os EUA, é fácil comprá-lo pela internet. A boa fama da bebida está voltando com uma mãozinha das celebridades. O cantor e aberração Marilyn Manson, por exemplo, disse que gravou um disco inteiro, The Golden Age of Grotesque, sob o efeito da bebida.