Alfabeto de antiga civilização é descoberto graças a postagem em rede social
Placa de ardósia contém letras de um alfabeto da civilização de Tartesso, que viveu na península Ibérica há 3 mil anos.
Letras do alfabeto de uma antiga civilização foram encontrados em uma placa de ardósia. Essa placa – e as letras do alfabeto em si – só foi descoberta graças a uma postagem no X (ex-Twitter).
Desde 2015, arqueólogos realizam escavações no sítio arqueológico de Casas del Turuñuelo, em Guareña, no sul da Espanha. A região foi um dos locais de habitação de uma antiga civilização chamada Tartessos, que viveu na península ibérica entre os séculos 9 e 5 a. C. No que hoje é o sudoeste da Espanha, essa civilização surgiu a partir do intercâmbio cultural entre os habitantes indígenas da região e os colonos fenícios que chegaram por volta do século 10 a.C.
Alguns textos gregos antigos já mencionavam a existência desse povo, que desapareceu de forma repentina em meados do século 5. Isso, inclusive, levou a sua associação com a lenda da mítica civilização de Atlântida.
Durante a primeira escavação, lá em 2015, os pesquisadores haviam encontrado resquícios de um templo antigo. E durante as escavações de 2024, eles encontraram uma pedra de ardósia quadrada. A pedra possuía vários desenhos e marcações, como marcas geométricas, rostos e gravuras de guerreiros. Segundo a codiretora da escavação, Esther Rodríguez González, o dispositivo pode ter pertencido a um artesão.
Em 6 de junho, pesquisadores do Instituto de Arqueologia de Mérida (IAM) e do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) soltaram um comunicado informando sobre as descobertas encontradas. Mas foi só após ver o post sobre os achados no X que Joan Ferrer i Jané, um engenheiro de software e pesquisador em línguas antigas na Universidade de Barcelona, descobriu que a pedra tinha algo a mais.
Junto com os desenhos e outras marcações na placa estavam algumas letras de um antigo alfabeto ligado aos fenícios, e que pode ter influenciado outros sistemas de escrita posteriores, como o latim, o espanhol e até o inglês.
“Além das figuras, quando observei a placa, vi que em um dos lados parecia haver um signo paleohispânico, um signo que não pode ser confundido com nenhum outro. Também se podiam ver outros traços compatíveis com signos de uma sequência conhecida”, contou Ferrer em comunicado.
O signo paleohispânico encontrado era o da letra maiúscula “i”, que, segundo Ferrer, não podia ser confundida com nenhuma outra coisa. Ele conseguiu identificar 15 símbolos na pedra, além de indícios de mais letras que precisarão de técnicas de imagem especiais para serem identificadas. Ele acredita que a ardósia pode ter até 32 símbolos ao todo.
“Após estudar as imagens, tudo aponta para que se trate de um abecedário de escrita meridional com a sequência inicial ABeKaTuIKeLBaNS?ŚTaUE, que é quase a mesma documentada no abecedário de Espanca, exceto pelo décimo primeiro signo, que apresenta uma forma especial”, explica.
A descoberta desse novo sistema de escrita pode não só elucidar o sistema de escrita dos Tartessos como também confirmar que essa era uma civilização alfabetizada. Somente outras duas inscrições alfabéticas foram encontradas na área habitada pela civilização – mas elas possuem poucos símbolos preservados e, é difícil de datar o período específico.
A descoberta de Ferrer levou os arqueólogos do sítio de El Turuñuelo a analisar os outros fragmentos encontrados e coletados durante as escavações. Junto com Ferrer, eles irão realizar um novo exame nas amostras, procurando encontrar novos símbolos e informações do antigo alfabeto perdido.