Algumas espécies podem evoluir mais rápido do que se pensava
Estudo feito ao longo de 30 anos relaciona diversidade genética com essa rapidez - que pode ajudar espécies a sobreviver às mudanças climáticas
A evolução genética de certas espécies pode estar ocorrendo até quatro vezes mais rápido do que o previsto. É o que afirma um estudo publicado por cientistas de vários países, que analisaram 19 grupos de animais selvagens ao redor do mundo.
Entre as espécies estudadas estavam pássaros Malurus cyaneus da Austrália, hienas-malhadas (Crocuta crocuta) da Tanzânia, pardais (Melospiza melodia) do Canadá e veados-vermelhos (Cervus elaphus) na Escócia. É a primeira vez que a velocidade da evolução é avaliada de forma tão abrangente.
Cada estudo de campo durou, em média, 30 anos, com informações de nascimentos, mortes, acasalamentos e descendentes registradas – o mais curto foi de 11 anos e o mais longo de 63 anos. Isso tudo gerou um total de 2,6 milhões de horas de dados de campo, que foram comparados com informações genéticas de cada animal.
Após três anos a equipe terminou a análise da mudança nas espécies causada pela seleção natural. Embora Darwin acreditasse que a evolução era um processo muito lento, pesquisas anteriores já mostraram que, em algumas espécies, ela pode ocorrer mais rápido do que em outras.
“Um exemplo comum de evolução rápida é a mariposa, que antes da revolução industrial no Reino Unido era predominantemente branca”, afirmou Timothée Bonnet, um dos autores do estudo. “Com a poluição deixando fuligem preta em árvores e edifícios, as mariposas negras tiveram uma vantagem de sobrevivência porque era mais difícil para os pássaros localizá-las”.
Entra em jogo o princípio da seleção natural: os indivíduos que sobrevivem e se reproduzem com mais facilidade passam suas características para frente. “Como a cor da mariposa influenciava a probabilidade de sobrevivência e é determinada pela genética, as populações na Inglaterra rapidamente foram dominadas por mariposas negras.”
O novo estudo não é diretamente comparável a nenhum anterior. Por isso, não é possível afirmar com total certeza que as espécies estão evoluindo mais rápido do que no passado. O que o estudo conclui, com segurança, é que o impacto da variedade genética é mais presente do que se imaginava.
“Não sabemos se as espécies estão se adaptando mais rápido que antes, já que não temos uma base. O que sabemos é que o potencial recente é maior do que o esperado – não necessariamente maior do que antes,” relata Bonnet.
Com as mudanças climáticas mexendo no meio ambiente e na vida selvagem, é fundamental aprender a rapidez com que os animais são capazes de se adaptar – isso pode ser muito útil para otimizar estratégias de preservação de espécies, por exemplo.
Estudos como esse, mais abrangentes e de longo prazo, são necessários para descobrir a velocidade da evolução.
“Esta pesquisa nos mostrou que a evolução não pode ser descartada como uma chance das espécies resistirem às mudanças ambientais. O que podemos dizer é que a evolução é um fator muito mais significativo na adaptabilidade das populações às mudanças ambientais atuais do que pensávamos,” encerra Bonnet.