Bactérias marinhas usam vírus como arma contra inimigos
Elas se transformam em uma espécie de "homens-bomba": morrem, mas levam junto microorganismos rivais
As comunidades microbianas são misturas complexas de coexistência harmoniosa e luta por recursos. Para garantir sua sobrevivência, alguns micróbios precisam travar brigas mortais contra seus competidores. E cientistas da Universidade do Tennessee, nos EUA, descobriram que as bactérias podem fazer muito mais do que se imagina: elas são capazes de usar vírus como “armas” — ou, melhor, “bombas” — contra seus rivais.
Os vírus nem sempre matam seus hospedeiros. Em muitos casos, eles desenvolvem uma relação mutuamente benéfica: o vírus garante sua sobrevivência e, em contrapartida, concede imunidade ao hospedeiro contra ataques de vírus semelhantes. Os vírus também infectam bactérias: segundo Alison Buchan, um dos autores do novo estudo, cada bactéria marinha hospeda aproximadamente 100 deles.
Os pesquisadores constataram que algumas bactérias não apenas aprenderam a sobreviver aos vírus, mas também os utilizam como arma. Segundo os pesquisadores, essas bactérias se transformam no equivalente microscópico de “homens-bomba”: elas morrem, mas também matam suas inimigas. “Descobrimos recentemente que, enquanto elas estão morrendo, as bactérias podem produzir novos vírus para atacar inimigos”, disse Buchan em comunicado.
Essa estratégia não salva a bactéria individualmente. Mas, do ponto de vista coletivo, ela é benéfica: como uma abelha se sacrificando pelo bem da colmeia, ela pode garantir que outros indivíduos semelhantes mantenham seu lugar no ecossistema.
Esse tipo de interação competitiva, disse Buchan, é importante para estabilizar o tamanho das populações microbianas nos sistemas marinhos. Esse equilíbrio pode ser crucial para processos biogeoquímicos, incluindo muitos relacionados à mudança climática — como absorção de carbono por parte das bactérias.
E, claro, essas descobertas fornecem pistas sobre a luta contra as doenças. Vírus que matam bactérias, conhecidos como bacteriófagos, já têm sido usados para tratamento em países do leste europeu.