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Baratas estão criando resistência a inseticidas – e se tornando quase invencíveis

O truque de usar vários inseticidas juntos está fazendo a baratinha (Blattella germanica) sobreviver a todos.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 4 jul 2019, 17h19 - Publicado em 4 jul 2019, 17h09

Há quem acredite que as baratas sobreviveriam a um desastre nuclear  – provavelmente não. Mas isso não significa que elas não possam surpreender pela resistência: de acordo com um estudo da Universidade de Purdue, em Indiana, EUA, esses insetos estão se tornando praticamente imunes a inseticidas. A pesquisa avaliou a espécie conhecida no Brasil como baratinha (Blattella germanica). Essa barata é uma das mais comuns nos ambientes domésticos de países como Estados Unidos, Austrália e Europa. No Brasil, ela só não é mais comum que a barata-americana (Periplaneta americana).

Nem todos os inseticidas agem da mesma forma. Alguns degradam o sistema nervoso e outros atacam o exoesqueleto da barata, por exemplo. Mas as baratinhas – também conhecida como baratas alemãs – se revelaram resistentes a todos. Os pesquisadores investigaram três colônias diferentes, que estavam em apartamentos nos estados de Indiana e Illinois ao longo de 6 meses. Foi testada a resistência a três inseticidas: abamectina, ácido bórico e tiametoxam.

O estudo avaliou três métodos distintos. No primeiro, houve uma rotação dos três inseticidas, que mudavam a cada mês durante seis meses; no segundo, uma mistura de dois inseticidas era pulverizada mensalmente; no terceiro, foram utilizadas iscas de gel de abamectina, uma vez por mês, em uma área onde as baratas haviam sido testadas e apresentado baixa resistência a esse inseticida.

Resultado: dos três métodos, apenas as iscas de gel de abamectina conseguiram reduzir a população de baratas no período de seis meses. As colônias tratadas com três pesticidas rotativos permaneceram do mesmo tamanho e aquelas tratadas com o spray misturado aumentaram de número.

“Se você tem a capacidade de testar as baratas antes e escolher o inseticida a que elas tem baixa resistência, isso aumenta as chances de sucesso”, disse o autor principal do estudo, Michael Scharf, em um comunicado da universidade. “Mas, mesmo assim, tivemos problemas para controlar as populações”.

E a situação fica ainda pior: nos testes de laboratório, algumas das baratinhas que haviam desenvolvido resistência a um tipo de inseticida também sobreviveram a pulverização com outros tipos. Os pesquisadores chamam isso de “resistência cruzada”: uma geração que resiste a um agente químico pode também se adaptar a outros semelhantes – mesmo nunca tendo sido exposta a eles. Isso surpreendeu os pesquisadores, já que, anteriormente, acreditava-se que as baratas só desenvolviam resistência a uma classe de pesticidas após o contato com ela.

De acordo com o estudo, para descobrir a razão exata desse “superpoder” alguns testes genéticos precisam ser feitos. Mas a hipótese mais provável aponta para a grande taxa de reprodução da baratinha em pouquíssimo tempo: uma fêmea pode ter 50 filhotes a cada três meses. Como essas baratas vivem por tempo curto, uma mutação pode se propagar rapidamente, com os genes das baratas mais resistentes se espalhando pela população. De todas as espécies domésticas, a baratinha é a que se reproduz mais rápido e em maior escala.

Se essa resistência generalizada se espalhar, poderá ser impossível matar esses bichos usando apenas inseticidas. Em vez disso, dizem os pesquisadores, as pessoas terão que usar o que é conhecido como “manejo integrado de pragas”, que envolve a instalação de armadilhas, a limpeza de detritos das superfícies e os tratamentos químicos. E, claro, a boa e velha chinelada.

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