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Beber para esquecer? Álcool pode ajudar a recuperar informações

Em um experimento britânico, quem havia enchido a cara na noite anterior se deu melhor na tarefa de decorar novas palavras

Por Guilherme Eler
25 jul 2017, 15h19

“Eu bebo para esquecer, se fosse para lembrar eu anotava”, diz o refrão de um sertanejo universitário que você já deve ter ouvido em alguma rádio por aí. Como sabedoria popular, a frase faz até bastante sentido. Só quem já abusou do álcool sabe que não existe borracha mais eficiente para memória que beber além da conta. Mas um novo estudo publicado na revista Nature sugere que encher a cara pode também ter um efeito contrário: facilitar que você se lembre de algo que aprendeu antes da bebedeira.

A conclusão vem de um experimento conduzido na Universidade de Exeter, na Inglaterra. 88 pessoas entre 18-53 anos que declararam beber apenas socialmente foram convidadas a participar de uma atividade em que tinham que aprender novas palavras. Durante 45 minutos, eles tinham de ouvir 24 delas, que se repetiam alternando a ordem. As novas palavras não eram neologismos nem nada do tipo, apenas recombinações de palavras que já existiam em inglês.

Depois disso, eles foram divididos em dois grupos para a segunda parte do teste. Para metade deles, a orientação era beber o quanto fosse necessário – a quantidade consumida por cada um, em média, foi de quatro doses. O restante, por sua vez, deveria resistir à tentação e se manter sóbrio.

No dia seguinte, eles participaram novamente do teste com as palavras. Surpreendentemente, quem não tinha resquícios de ressaca foi pior no teste. Quem havia bebido conseguiu se lembrar de mais palavras, se comparado a quem permanecia sem nada de álcool no sangue. E, quanto mais bebum o participante, mais sua memória pareceu funcionar na hora H. “O efeito foi mais perceptível para aqueles que beberam mais”, diz Celia Morgan, uma das autoras do estudo.

Apesar do porquê ainda não ser entendido por completo, a hipótese dos cientistas é de que o álcool bloqueie a capacidade de aprendizado de novos conteúdos. Isso facilitaria ao cérebro a tarefa de transformar a informação recentemente absorvida em lembranças mais definitivas. “Acreditamos que o hipocampo – área do cérebro bastante importante para as memórias – passe a ‘consolidar’ as memórias, transformando aquelas que são de curto prazo em memórias de longo prazo”, completa Morgan.

Isso não significa que encher a cara regularmente lhe fará acompanhar aquela matéria complicada na faculdade ou fixar melhor o conteúdo da aulinha de inglês. Sua memória, aliás, não deixará que você se esqueça do conteúdo mais importante do dia: os efeitos da ressaca que você teve na manhã seguinte.

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