Caçadores pré-históricos fincavam lanças no chão e deixavam animais se espetarem
Por muito tempo, pensou-se que os sapiens das antigas arremessavam os projéteis. Agora, há evidências de uma tática mais prática: usar estacas.
Algumas das primeiras armas usadas por nossos ancestrais foram lanças de madeira com extremidades afiadas de pedra lascada – há evidências desse tipo de projétil que datam de 500 mil anos atrás, 200 mil anos antes do crânio de sapiens mais antigo.
Por muito tempo, acreditou-se que os caçadores arremessavam essas lanças em mamíferos de grande porte, como mamutes e bisões. Não é o jeito mais prático de conseguir almoço: além da força homérica necessária para o projétil penetrar no animal, haja pontaria para atingi-lo em um órgão vital.
Outra hipótese é que esses sapiens se aproveitassem de animais que já estavam feridos. Isso tornaria mais fácil se aproximar e inserir as lanças diretamente em seus corpos, sem o problema de acertar um gigante em movimento como se fosse um dardo em um alvo de boteco.
Agora, um grupo de arqueólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley argumenta que havia um jeito mais inteligente de usar essas armas: cravá-las no chão com as pontas afiadas para cima, ligeiramente inclinadas para frente. Então, bastava atrair o bicho naquela direção e deixá-lo se espetar sozinho.
No periódico especializado PLOS One, os pesquisadores apresentaram diversas evidências de que essa era uma tática amplamente adotada nas Américas no finalzinho da última era glacial, há 13 mil anos, quando predominava um tipo particular de ponta de lança conhecido como “ponta de Clovis” (em referência à cidade de Clovis, no Novo México, onde o primeiro exemplar foi encontrado em 1929).
Além de colher fontes escritas, obras de arte e registros etnográficos de várias civilizações que caçavam ou se defendiam assim – sinal de que essa era uma prática muito disseminada –, o pessoal de Berkeley também soltou pesos em cima de lanças com pontas de Clovis para entender quais estragos elas causavam conforme penetravam nos bichos.
Esses experimentos de laboratório revelaram um detalhe engenhoso (e cruel) na maneira como essas pontas eram talhadas: caso a extremidade pontiaguda ficasse emperrada em um osso – e por isso, não penetrasse o suficiente para causar um ferimento letal – a madeira do corpo da lança acabaria se quebrando dentro do bicho e aumentando a lesão.
Esse diferencial tornava as pontas de Clóvis mais difíceis de se talhar – e portanto, valiosas demais para arremessar por aí sem a garantia de que voltariam. Empalando os bichos com essas armas, era muito mais garantido que fosse possível recuperá-las e reutilizá-las depois que o churrasco estivesse pronto.