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Carambola-do-mar bate recorde de fóssil animal mais antigo: 600 milhões de anos

O bichinho gelatinoso, anterior à explosão de biodiversidade do período Cambriano, é um dos primeiros seres vivos multicelulares da história da Terra.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
23 jan 2019, 16h13

Em setembro de 2018, aqui na SUPER, você conheceu um simpático fóssil em forma de biscoito chamado Dickinsonia – descoberto pelo estudante de doutorado russo Ilya Bobrovskiy em uma encosta íngreme na fronteira da Finlândia com a Rússia. Com 558 milhões de anos de idade, ele se tornou o animal mais antigo conhecido.

Até agora. Um fóssil de carambola-do-mar de 600 milhões de anos acaba de ser encontrado na formação geológica de Doushantuo, no sul da China. Zhenbing She, o pesquisador responsável, anunciou a descoberta durante uma reunião da Sociedade Geológica de Londres realizada nesta semana. Doushantuo é um lugar promissor para a paleontologia: em agosto de 2016, fósseis microscópicos misteriosos provenientes de suas rochas, que podem ser resquício de algas unicelulares ou embriões de animais primitivos, foram datados em 631 milhões de anos. O conjunto desses fósseis é conhecido como biota de Weng’an

Carambolas-do-mar tem consistência gelatinosa – seu corpo consiste essencialmente em um saco de um tecido transparente chamado mesoglea –, e podem alcançar um metro e meio. Se locomovem usando conjuntos de cílios que, vistos de longe, lembram um pente. Superficialmente, se parecem muito com águas-vivas, embora do ponto de vista taxonômico pertençam a um filo próprio, o dos ctenóforos (as águas-vivas são cnidários. Parecido, mas não igual).

As carambolas-do-mar são a prova de que menos é mais. Elas mantêm essencialmente a mesma aparência desde a origem da vida multicelular na Terra – o que as torna excelentes janelas para o passado. Segundo Zhenbing She, a carambola fossilizada recém-descoberta é muito parecida com a de um tipo de carambola contemporânea pertencente ao gênero Pleurobrachia (conhecida pelos cientistas como groselha-do-mar. As analogias com frutas, aparentemente, são populares). 

ctenophore
Uma carambola-do-mar bioluminescente. Poderia ser o abajur do seu quarto. (R. Griswold/NOAA/Domínio Público)
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Se fósseis de ossos já são uma raridade, fósseis de animais que não possuem ossos não uma raridade ainda maior. Os tecidos moles de uma água viva raramente se preservam, o que torna o achado muito especial.

Por muito tempo, o marco zero da vida animal na Terra foi um evento chamado explosão do Cambriano, ocorrido há 541 milhões de anos. Uma famosa formação geológica chamada Burgess Shale, descoberta por Charles Walcott em 1909 na província canadense de Columbia Britânica, contém fósseis de criaturas com anatomias extremamente variadas – algumas das quais não tem equivalentes na fauna contemporânea. Esse aumento repentino de biodiversidade (até aquele ponto, a vida na Terra era total ou majoritariamente unicelular) é muito importante para a história natural.

Por volta da década de 1960, graças a uma série de fósseis engavetados (o mais antigo deles coletado ainda do século 19), paleontólogos começaram a perceber que havia um conjunto de bichinhos anteriores à explosão do Cambriano, batizados coletivamente de Biota Ediacarana. O Dickinsonia, antigo detentor do título de animal mais antigo conhecido, pertencia à esta biota.

A carambola-do-mar chinesa, porém, é ainda mais antiga – e, portanto, ainda mais especial. A biota de Weng’an ainda está cercada de dúvidas. Mas, se continuar rendendo fósseis nesse ritmo, pode se tornar um dos sítios mais importantes da paleontologia.

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