Edward Pimenta Jr
Não é que o escritor americano Michael Crichton tinha razão? A recente notícia de que uma espécie de macaco desconhecida pela ciência pode existir na África foi prevista por ele no romance Congo, adaptado para o cinema em 1995. No livro, o autor de Parque dos Dinossauros – ficção que precedeu o surgimento da clonagem animal e do mapeamento do genoma humano – narra as aventuras de uma expedição de cientistas ameaçada por um bando de misteriosos gorilas assassinos nas florestas africanas.
De fato, as pistas desses macacos perdidos já têm quase 100 anos. Em 1908, dois primatas foram abatidos perto da floresta de Bondo, no Congo. Seus crânios tinham as características dos gorilas, mas eram tão incomuns que foram classificados como sendo de uma subespécie diferente. Desde então, nenhum outro espécime havia sido encontrado.
Há quatro anos, porém, o fotógrafo suíço Karl Amman, retomou o desafio e partiu em busca dos macacos perdidos, na floresta de Bondo. Suas descobertas apontavam para a existência de uma nova espécie de primata, possivelmente um chimpanzé com comportamento de gorila. Ele encontrou um crânio, ninhos terrestres e fezes muito parecidos com os de gorilas. Mas um exame de DNA revelou que a carga genética dos bichos é parecidíssima com a dos chimpanzés.
A análise das fezes confirmou que os tais macacos têm uma dieta rica em frutas, como os chimpanzés.
A pesquisadora americana Shelly Williams, que trabalha na mesma região, reforça a tese de Amman e conseguiu fazer, recentemente, as primeiras imagens do que ela acredita ser o primata misterioso. Trata-se de um espécime grande, com pegadas de até 34 centímetros, de pêlo grosso e face achatada, que recebeu o nome provisório de koolookamba – que quer dizer exatamente chimpanzé-gorila no dialeto local. Grandes, fortes e mal-encarados, os animais lembram muito aqueles descritos na ficção de Crichton.
O professor de antropologia da Universidade de Harvard, Estados Unidos, Richard Wrangham, uma das maiores autoridades mundiais em primatologia, esteve na região a convite de Amman. “Concluí que há realmente um grande chimpanzé vivendo lá, mas ainda não estou certo de que represente uma nova subespécie”, afirma. Para Wrangham, pode tratar-se de um grupo isolado que desenvolveu hábitos e comportamento muito peculiares, mas que, certamente, precisam ser melhor estudados.