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Cientistas planejam trazer o dodô de volta da extinção

Não é a primeira vez que a empresa Colossal Biosciences propõe “desextinguir” uma espécie. Veja como os cientistas pretendem alcançar o feito.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 17 fev 2023, 17h18 - Publicado em 7 fev 2023, 19h17

A Colossal Biosciences, uma startup americana de biotecnologia e engenharia genética sediada na cidade de Dallas, quer “desextinguir” o dodô, que desapareceu do planeta há mais de 360 anos. 

Em uma iniciativa que incorpora avanços no sequenciamento de pedaços de DNA antigos, tecnologia de edição de genes e biologia sintética, os pesquisadores esperam abrir novas técnicas para a conservação de pássaros

Esse é o mais novo projeto da empresa, que também se propôs a trazer de volta o mamute lanoso e o lobo-da-tasmânia, em 2021 e 2022, respectivamente. A empresa recebe financiamento de investidores, inclusive celebridades – E com o anúncio da nova empreitada, a empresa arrecadou mais US$ 150 milhões. O valor arrecadado desde seu lançamento, em 2021, é US$ 225 milhões.

Os dodôs eram pássaros da família dos Columbidae, a mesma dos pombos e das rolinhas. Ele tinha 70 centímetros de altura, pesava de 15 a 18 quilos e habitava as ilhas Maurício, no Oceano Índico, ao leste de Madagascar. Os dodôs eram pássaros que, assim como pinguins e galinhas, não conseguiam voar. Imagina-se que tenham evolutivamente perdido essa habilidade devido à abundância de comida no chão e falta de predadores na ilha – daí, não tinham por que gastar energia voando

Os dodôs foram extintos na metade do século 17. Sua primeira aparição foi em um registro feito por marinheiros holandeses em 1598. E acredita-se que o último dodô tenha morrido em 1662 – apenas 64 anos mais tarde. Quando os holandeses ocuparam a ilha, trouxeram outros animais, como cachorros, porcos e gatos, que competiam pelos recursos com os pássaros. Além disso, a destruição de seu habitat e a fácil caça (eles não tinham medo dos humanos, por não estarem acostumados a predadores) aceleraram ainda mais sua extinção.

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“Estamos claramente no meio de uma crise de extinção. E é nossa responsabilidade trazer histórias e empolgar as pessoas de uma forma que as motive a pensar sobre o que está acontecendo agora”, afirma Beth Shapiro, professora de ecologia e biologia evolutiva da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz e a principal paleogeneticista da Colossal Biosciences.

Segundo ela, um importante primeiro passo já foi dado: baseados no material genético de restos de um dodô na Dinamarca, ela e seu time de pesquisa conseguiram sequenciar o genoma completo da ave. Depois, eles precisariam comparar as informações genéticas com a de alguns parentes próximos da família dos pombos. Assim, os cientistas poderiam identificar quais mutações são essenciais para compor as características físicas de um dodô.

A parte de trazer o pássaro de volta seria, com certeza, a mais desafiadora. Para recriar alguma versão do dodô, os cientistas planejam editar genes do pombo-de-nicobar, seu parente vivo mais próximo. Eles removeriam as células germinativas de um pombo, editariam os genes para torná-los mais parecidos com dodôs e implantariam as células de volta em um ovo no mesmo estágio de desenvolvimento. A técnica já foi aplicada antes, e tornou possível um pato macho ter uma galinha como prole

A novo dodô, porém, não seria exatamente igual ao que viveu no século 17, e sim um híbrido alterado.

Aperfeiçoar essas ferramentas de biologia sintética não é só algo tirado de um filme de ficção: ela teria implicações amplas no esforço de conservação das aves. Avanços podem permitir que cientistas manipulem características genéticas específicas entre as espécies de aves para ajudá-las a sobreviver em habitats menores e em um mundo mais quente.

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“Seria incrível fazer essa tecnologia funcionar em muitos pássaros diferentes, isso será extremamente impactante para a conservação das aves”, afirma Shapiro.

Mesmo assim, alguns críticos defendem que o passado deve permanecer no passado, e que é melhor se focar no presente e no futuro. Segundo eles, a enorme quantia arrecadada para “desextinguir” o dodô poderia ser aplicada em esforços para evitar a extinção de uma das várias espécies de pássaros que está ameaçada.

Foi a morte dos dodôs que trouxe à tona o debate sobre a extinção. Naquela época, antes do descobrimento dos primeiros fósseis de dinossauros, muitos não acreditavam ou não imaginavam que um animal poderia simplesmente desaparecer do planeta para sempre. O dodô mudou a forma como as pessoas e a ciência viam a relação dos humanos com os animais, e o projeto busca novamente redefinir nossa percepção da extinção.

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