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Cochilo esperto

A ciência leva para dentro das empresas a tradição da sesta. A moda, que começou nos Estados Unidos, começa a chegar ao Brasil. Acredite, uma dormidinha no trabalho dá lucro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 31 Maio 1999, 22h00

Flavia Natércia

Os ponteiros marcam 2 da tarde. Os olhos pesam, o corpo amolece e o trabalho não rende. Não adianta pôr a culpa na noite maldormida. Nem na digestão. “Todos nós, mamíferos, estamos sujeitos a um relógio biológico que baixa a atividade do organismo não só à noite, mas também no começo da tarde”, explica à SUPER o neurologista Rubens Reimão, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Por quê? A ciência não sabe.

A mudança de ritmo decorre de processos químicos chamados ciclos circadianos, que regulam, a cada 24 horas, a temperatura do corpo e o sono. “Pode ser um vestígio de nossa origem comum com outros animais que dormem várias vezes ao dia”, diz o fisiologista Luiz Menna-Barreto, da Universidade de São Paulo. O fato é que, forçada por uma marcha lenta bioquímica, a sonolência vem e se acomoda.

Agora as empresas começam a lucrar com a adoção da sesta durante o expediente. Segundo o psicólogo William Anthony, da Universidade de Boston, umas vinte companhias americanas já aderiram à moda, entre elas a New York Metropolitan Transportation Authority (a companhia de ônibus de Nova York) e a ferrovia Burlington Santa Fe Railway, do Texas.

Nelas, os empregados ganharam um período de 15 a 30 minutos imunes à cobrança dos chefes. Aliás, eles também devem tirar um cochilo, para o bem de todos e dos negócios. Segundo a Fundação Nacional do Sono, em Washington, a cada ano os Estados Unidos perdem 80 bilhões de dólares com trabalhadores que dormem no ponto ou cometem enganos, às vezes fatais. “Esse número pode cair com a sesta”, diz Anthony.

Essa promessa levou multinacionais como a IBM e a Nike a estudar a medida e convenceu empresários a investir pesado no repouso remunerado. Craig Yarde, dono da Yarde Metals, em Bristol, Connecticut, construiu oito dormitórios para seus 175 funcionários tirarem uma pestana de 20 minutos, sem horário marcado, na hora em que o sono bater. “Todos acordam mais produtivos, como se estivessem no início da jornada”, disse Yarde à SUPER.

No Brasil, o laboratório farmacêutico Eli Lilly, em São Paulo, já aderiu à moda. Os 1 100 empregados dispõem de uma sala escurinha, com sofás confortáveis, para repor energias após o almoço ou a qualquer momento.

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Só que a sesta não serve para todo mundo. “Alguns indivíduos sofrem da disfunção chamada inércia do sono”, explica Menna-Barreto.

“Eles acordam mais lentos depois do cochilo.” A maioria de nós, no entanto – os dorminhocos saudáveis –, pode, sem problemas, gozar de matinês diárias de repouso.

Relógio sem corda

O culpado pelo sono depois do almoço é um grupo de neurônios que trabalha mesmo contra a sua vontade.
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1. Na base do cérebro

Tudo acontece no hipotálamo, a região bem atrás dos olhos. Às 2 horas da tarde e às 11 da noite, alguns neurônios trabalham mais do que no restante do dia. Os neurocientistas não sabem por que isso ocorre. Mas conseguem descrever o processo.

2. Ritmo químico

Ativados, esses neurônios produzem em excesso mensageiros químicos que ativam e desativam outras células do corpo: os neurotransmissores acetilcolina e serotonina. Normalmente, a acetilcolina atua sobre os órgãos digestivos e a serotonina funciona como antidepressivo. Só que, em quantidades maiores, elas causam reações diferentes.

3. Rede de influências

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As duas substâncias lançam impulsos elétricos pelos neurônios para as demais partes do cérebro e para a medula espinhal, de onde saem os nervos que se irradiam para o restante do corpo.

4. Os efeitos

Menos alerta

A serotonina congestiona o cérebro e diminui a capacidade de resposta dos neurônios. A mente torna-se lerda e incapaz de reagir a estímulos externos. Os olhos ficam pesados e o raciocínio, lento.

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Anestésico interno

Os impulsos da acetilcolina viajam até os músculos e os nervos dos membros. Ali, ela dopa as células responsáveis pela rapidez de reação e pelos reflexos. O corpo fica mole.

5. Duas reações

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De dia

Basta 1 hora para os níveis de acetilcolina e serotonina caírem e você voltar ao estado de alerta. Tirar um cochilo durante esse período ajuda. Os cientistas desconfiam que, dormindo, o corpo libera substâncias, como o neurotransmissor endorfina, que atuam na recuperação do ânimo.

À noite

A acetilcolina e a serotonina se misturam a outros neurotransmissores e hormônios, como a melatonina, e provocam um relaxamento maior que o diurno. Às 11 da noite, o metabolismo e a temperatura do corpo começam a cair. Você fica pronto para entrar num sono profundo, com direito a sonho.

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