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Comic Sans pode ser a melhor fonte para pessoas com dislexia

A irregularidade do desenho das letras é uma ferramenta de acessibilidade para quem não consegue associar símbolos a seus sons e significados

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
13 mar 2017, 15h40

Cada década tem sua cara, até no escritório. Os anos 1990 são sinônimo de monitores de tubo feitos de plástico cinza pálido, máquinas de fax e, claro, avisos em Comic Sans colados na porta. As letras com jeito de história em quadrinhos foram criadas por Vincent Connare, designer da Microsoft, em 1994. Connare não era um mensageiro da discórdia no mundo tipográfico. Na época, os sistemas operacionais usavam a sóbria e séria Times New Roman em balões de interação com usuário — uma escolha bem pouco convidativa, como você pode ver aqui. Aliviar a barra com contornos mais simpáticos fazia todo o sentido.   

Os anos passaram, e a Comic Sans foi usada com tanta frequência fora de seu contexto original que se tornou a inimiga nº1 do bom gosto — há até uma campanha que busca tirá-la de vez das opções do Windows. Nem só de críticas, porém, vive uma fonte: ela também se tornou um pré-requisito de acessibilidade vital para os disléxicos.  

Famílias tipográficas sérias e tradicionais, como a Palatino ou a Bodoni — e também as despojadas fontes sem serifa, popularizadas pelo movimento modernista a partir da década de 1950 e usadas em sites como o da SUPER — têm todas um grande problema: as letras “p”e “q” são um reflexo perfeito uma da outra, assim como o “b” e “d”. A Associação Britânica de Dislexia ainda lista outras necessidades básicas na hora de projetar uma fonte para quem tem o problema, como tomar cuidado com a confusão entre “rn” de “m” — uma boa recomendação para qualquer tipógrafo — e fazer a letra “l”, o número “1” e o “I” maiúsculo bem diferentes entre si.

A Comic Sans, graças a seu desenho irregular e despojado, preenche estes requisitos muito bem — e permite que disléxicos leiam textos acadêmicos que seriam indecifráveis com a diagramação usual. A jornalista americana Lauren Hudgins publicou no The Establishment um texto em que conta como sua irmã, que sofre do problema, foi capaz de terminar um curso de zoologia marinha na Universidade de Gales, no Reino Unido, graças à fonte mais odiada pelo mundo do design.  

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“Há fontes que foram especificamente criadas para pessoas com dislexia, e nenhuma delas têm o minimalismo, o equilíbrio elegante e o espaçamento perfeito preferido por tipógrafos. Mas elas são ferramentas de acessibilidade cruciais”, afirma Hudgins no artigo. “Há alternativas de fontes gratuitas, como a Lexie Readable (que se autodenomina ‘Comic Sans para adultos’), a Open-Dyslexic e a Dislexie.” Muitos disléxicos, porém, aprenderam a ler e escrever bem antes do advento dessas alternativas, e se acostumaram tanto a usar a Comic Sans que não conseguem mais abandoná-la.

Entre 3% e 7% da população mundial tem dificuldade de associar sinais gráficos a seus sons e significados, mas o número total de pessoas que apresentam alguma sintoma do problema pode chegar a 20%. No Brasil, metade dos disléxicos não sabe que tem o problema. Moral da história? Talvez comunicados de condomínio em Comic Sans não sejam uma ideia tão ruim assim.

 

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