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Como a vida de Planck pode inspirar a sua

"Não é a posse da verdade, mas o sucesso que acompanha a busca por ela, o que enrique o buscador e traz felicidade a ele"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 9 abr 2017, 14h07 - Publicado em 7 abr 2017, 18h46

É comum a precocidade entre os gênios. Max Planck, porém, demonstrou que não existe lugar  para a pressa nos grandes feitos.  Eles podem vir com naturalidade mesmo após algumas décadas de trabalho, embora, claro, sejam mais raros pelo simples fato de que, quanto mais tempo você trabalha sobre um paradigma, mais difícil se torna você abandoná-lo e promover uma revolução.

Com sua mentalidade metódica e sua precisão, Planck concedeu sua maior contribuição à ciência em idade relativamente tardia, a despeito de qualquer reserva que pudesse ter às próprias ideias que estava avançando. Quando ele divulgou sua hipótese sobre o quantum, já tinha lá 42 anos. Pode nem parecer tanto assim, mas a maioria dos gênios tem seus maiores lampejos bem mais cedo: Isaac Newton teve seu “ano miraculoso” em 1666, aos 23 anos. Einstein publicou a Teoria Especial da Relatividade em 1905, aos 26. Planck mostrou, portanto, que nunca é tarde para começar uma revolução científica.

Mesmo depois de produzir uma realização que poucas vezes se viu similar na história da ciência, o cientista alemão não se sentia glorificado pela concepção do quantum. Muito pelo contrário. Depois de ter libertado da garrafa o gênio da física quântica, tentou de todas as formas recondicioná-lo a uma formulação clássica, como que tentando trazer de volta uma forma de pensar que estaria condenada a desaparecer. “Minhas tentativas fúteis de colocar o quantum de volta na teoria clássica continuaram por vários anos e me custaram grande esforço”, escreveu. Nunca houve um revolucionário mais hesitante.

Isso era reflexo de sua cautela e também de uma vida acadêmica inteira conduzida sob outro paradigma científico. Mas nenhuma ideologia ou forma de pensar vigente o impediu de propor o impensável e literalmente granular o Universo, ao sugerir que ele fosse composto por pacotes limitados e bem definidos  de energia.

Note que Planck sempre se mostrou muito mais satisfeito com  o caminho intelectual percorrido  para resolver os problemas físicos  do que necessariamente com a solução que ele encontrou. Trata-se  de outra lição importante.

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“É a jornada, não o destino”, costuma repetir meu amigo jornalista Reinaldo José Lopes, toda vez que demonstro irritação pelo fato de  que determinada coisa, a despeito  do trabalho que dá, parece não levar  a lugar algum. E essa é basicamente  a mensagem que Max Planck também nos deixa. Não importa quão imensa seja a revolução conceitual que você deixa para trás ao final de sua viagem – e a dele foi particularmente monstruosa –, o que de fato é relevante para nós é a jornada  em si e a capacidade de nos encantarmos com ela.

A trajetória de Planck, de qualquer forma, torna-se ainda mais significativa se levarmos em conta as agruras pessoais e sociais pelas quais ele teve de passar. Sua história pessoal caminha lado a lado com a trágica participação da Alemanha nos grandes conflitos internacionais do século 20. O físico perdeu um filho na Primeira Guerra Mundial, outro na Segunda, mas jamais perdeu de vista a necessidade de fomentar e proteger o desenvolvimento da ciência em seu país, navegando com delicadeza pelas águas turvas do nazismo. Por ser um amante da verdade, acima de qualquer ideologia, sofreu com a atitude anti-intelectual do jugo brutal de Adolf Hitler, que vitimaria tantos de seus colegas judeus.

Seus esforços foram fundamentais para levantar a ciência de seu país após as duas grandes guerras. E são um ótimo exemplo de como um profissional de sucesso pode usar sua própria influência de forma a instigar e desenvolver ainda mais seu próprio campo – certamente lançando as bases para a solução de problemas que ele mesmo jamais teria a chance de abordar em sua vida. Ao enxergar que fazemos parte de uma engrenagem muito maior, que temos o compromisso com uma história maior que nós mesmos, nos desapegamos da necessidade de recompensa imediata e somos capazes de trabalhar em favor do bem comum. Cientes disso, ganhamos um prêmio muito maior: o da compreensão de que não há maior realização pessoal do que vivenciar todas as dificuldades e alegrias que se interpõem entre nós e nossos objetivos.

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