Como detectar vida alienígena? Caçando mundos com uma molécula fedorenta
Cientistas descobriram que a fosfina, composto que cheira a peixe podre, pode ser uma das nossas melhores chances de achar seres extraterrestres.
Pense numa substância que faz boa parte das criaturas que vivem no planeta Terra terem ânsia de vômito — pelo menos, as que possuem essa capacidade (as que não têm costumam apenas querer evitá-la a todo custo). Esse composto de odor pútrido se chama fosfina (ou ainda fosfano, ou fosfamina), e é achada em pântanos e nos sedimentos de lagos – mas também é presença garantida nos intestinos e nas flatulências de muitos animais.
Pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), passaram os últimos anos estudando a fundo essa molécula tóxica que cheira a peixe podre, feita de um átomo de fósforo e três de hidrogênio. Eles descobriram que nem toda vida sente repulsa por ela — só a que funciona à base de oxigênio (organismos aeróbicos). Já os anaeróbicos, micróbios extremos, produzem a fosfina em abundância e convivem com ela numa boa.
A equipe liderada pela astroquímica quântica Clara Sousa-Silva conduziu uma extensiva análise para descartar outras possíveis fontes produtoras de fosfina. A conclusão foi categórica: a molécula é criada exclusivamente pelo metabolismo dessas bactérias e outros organismos microscópicos. Isso tem implicações animadoras para a astrobiologia, especialmente para a busca por vida fora da Terra, na qual a fosfina tem imenso potencial.
“Siga aquele cheiro!”
Por ser produzida somente por seres vivos, a substância funciona como uma espécie de bioassinatura infalível — se detectada na atmosfera de um exoplaneta rochoso, ela indica necessariamente a existência de vida extraterrestre. Há outros elementos, como o oxigênio e o metano, que são igualmente criados pela atividade metabólica, mas acontece que eles também podem ter origem em processos geoquímicos, o que aumenta bastante a incerteza.
No artigo publicado em uma edição recente da revista científica Astrobiology, os cientistas explicam que, se a fosfina for sintetizada em um exoplaneta na mesma quantidade que o metano é na Terra, ela geraria uma “impressão digital” inconfundível na luz que atravessa a atmosfera do mundo e chega até nós. Achou complicado? A boa notícia é que a próxima geração de supertelescópios será sensível o bastante para detectar essa assinatura em um raio de 16 anos-luz do Sistema Solar.
A fosfina está longe de ser a única bioassinatura conhecida. O próprio time do MIT está organizando um extenso catálogo com todas as possíveis candidatas — já são mais de 16 mil. A grande maioria ainda precisa ser caracterizada em detalhes – mas nenhuma delas se equipara à fosfina. Ela é a única que permite uma conclusão sem margem de dúvida de que o planeta que a contém deve abrigar algum tipo de vida.
Outra contribuição do estudo é mostrar o caminho das pedras a outros cientistas que queiram testar as demais 16 mil. “Acho que a comunidade científica precisa filtrar essas candidatas em algum tipo de ordem de prioridade”, disse Sousa-Silva em comunicado. “Mesmo se algumas dessas moléculas forem de fato faróis fracos, se pudermos determinar que somente a vida pode enviar aqueles sinais, então me parece que sejam uma mina de ouro.”