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Como funciona um balão espião

O artefato chinês abatido nos EUA deve ter muitos similares nos próximos anos. Mais barato que os satélites, esse espião está mais e mais sofisticado.

Por Alexandre Carvalho
16 fev 2023, 18h27

Não, não era um disco voador. Alienígenas, se existem, ainda não deram sinal inequívoco de vida por aqui. 

O objeto voador que passou algum tempo como “não identificado”, no começo do mês, sobrevoando os Estados Unidos era, talvez, algo pior que extraterrestres. Era um balão chinês de alta altitude, flutuando a mais de 18 mil metros do chão. Isso é bem mais alto do que os aviões comerciais costumam atingir – geralmente não passam dos 12 mil metros. 

O Ministério das Relações Exteriores da China apressou-se a divulgar um comunicado dizendo que era apenas um balão meteorológico. Só que pode ter sido um balão espião de uma superpotência nuclear. Pelo menos é o que militares americanos têm dito aos jornais do país. Tanto que, no dia 4 de fevereiro, pilotos de caça dos EUA dispararam um míssil para explodir o balão (é direito deles, afinal o “OVNI” tinha invadido espaço aéreo americano), e a Marinha e a Guarda Costeira correram para recuperar os destroços e conferir do que realmente se trata. O sensor do balão permite identificar se o dispositivo guarda dados meteorológicos ou de inteligência militar. 

Do que estamos falando…

A diferença entre um balão da paz e um de guerra geralmente está apenas nas informações que seu sensor armazena. Eles podem ter uma ou várias câmeras suspensas e radar que funcionam à base de energia solar. Como todo balão, contêm um invólucro (o que a gente chama mesmo de “balão”), onde fica o gás hélio, menos denso que o ar, que permite que o conjunto flutue com o vento. 

Dentro desse invólucro, há outro balão, menor, que fica na parte inferior e pode captar ar externo – mais pesado, portanto, que o hélio – de modo a permitir que o balão mude de altitude para aproveitar uma corrente de ar mais favorável. 

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Mais abaixo ficam os painéis solares e o “compartimento de carga”, que pode levar câmeras, radares e equipamentos de comunicação.

Esses balões podem variar bastante de tamanho. O chinês que foi abatido pelos caças era grande o suficiente para ser visto do chão àquela altura de 18 mil metros.  

Então, quando esses tipos de balões terminam seus voos, seu pacote de sensores se desprende e volta para a terra de paraquedas, de modo a ser recolhido para análise. Em alguns casos, uma aeronave pode pegá-lo enquanto o balão ainda está no céu.

Mais baratos e sofisticados

Mas para que dar bandeira com esses balões tão visíveis se as superpotências já têm seus satélites no espaço para espionar umas às outras?

Segundo a Rand Corporation, um think tank americano que fornece pesquisas e análises às Forças Armadas do seu país, os balões espiões podem capturar imagens com a mesma resolução que os satélites mais caros e monitorar a mesma área por períodos muito mais longos do que os satélites em órbita, que passam rapidamente por cima das áreas que devem observar. Eles também são mais baratos e descartáveis em comparação com aeronaves tripuladas ou drones de última geração. 

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O que não quer dizer que não estejam cada vez mais sofisticados. 

O New York Times informou que cientistas militares chineses estão trabalhando para tornar os balões espiões mais “duradouros, mais dirigíveis e mais difíceis de detectar e rastrear”. E seus rivais não ficam atrás.

O Pentágono planeja gastar mais de US$ 27 milhões em projetos de balões ao longo de 2023 – um aumento de sete vezes em relação aos gastos dos anos anteriores. O objetivo é que seus balões possam se comunicar com satélites para rastrear mísseis hipersônicos e outras ameaças aéreas junto com a atividade no solo.

Todo esse cenário remete à volta da Guerra Fria, quando o lançamento, em 1957, do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra, convenceu muitos americanos de que os soviéticos poderiam ver tudo o que eles faziam aqui embaixo e, pior, atirar uma bomba atômica do espaço. Sem possibilidade nenhuma de previsão ou defesa. 

Com a evolução das tecnologias e as crescentes animosidades entre americanos, chineses, europeus e russos, as apreensões de mais de 60 anos atrás não parecem mais tanta paranoia assim.

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