Como nosso cérebro de homem das cavernas é capaz de entender ciência
Mecanismos cerebrais primitivos se adaptam para tarefas modernas
É uma daquelas coisas que não parece ter nenhum mistério até você começar a pensar nela. Nosso cérebro evoluiu em um mundo muito mais simples do que aquele em que vivemos. Isso causa diversos inconvenientes: a obesidade vem da tendência do cérebro a achar que o mamute que você comprou no McDonalds pode não estar mais lá amanhã. O estresse é seu cérebro dizendo a você que seu chefe é um leão. Mas esse mesmo equipamento da Idade da Pedra é o que nos levou à Teoria da Relatividade, às viagens à Lua e à descoberta de exoplanetas e buracos negros.
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É como se estivéssemos usando uma calculadora mecânica do século 19 para renderizar uma animação em 3D, ou ganhando uma corrida de Fórmula 1 com um carro de boi. Com esse paradoxo em mente, um grupo de cientistas da Carnegie Mellon University (EUA) decidiu escanear os cérebros de nove estudantes de física com ressonância magnética enquanto mostravam a eles cartas com 30 conceitos científicos, como gravidade, entropia, inércia, refração e velocidade.
O estudo chegou a uma conclusã inédita: para entender física, o cérebro usa os mesmos mecanismos primitivos que ajudaram nossos ancestrais pré-históricos. Quatro circuitos cerebrais usados da Idade da Pedra até hoje em tarefas corriqueiras foram ativados quando os estudantes pensaram em conceitos físicos complexos. Em outras palavras, eles descobriram que o mesmo mecanismo cerebral que um dia fez alguém dizer “Thug acertar pedra na testa de Ugg” permitiu a seu descendente Isaac Newton criar as leis do movimento, e a Albert Einstein revisá-las.
Um dos quatro circuitos é o de percepção causal de movimento, a ideia de que movimentos são causados por algo. Isso era útil quando lançávamos dardos contra gazelas ou hoje nos ajuda a desviar dos carros a rua. É o que é usado quando tentamos entender conceitos como gravidade, força centrípeta, torque e a energia potencial.
Outro é a noção de periodicidade, notar coisas como a frequência no pocotó do cavalo, o que nos permitiu criar a música. Isso hoje nos permite entender conceitos rítmicos, como as ondas de som, rádio e luz, que se repetem inúmeras vezes por segundo.
Há também a sensação de fluxo de energia, a forma como percebermos que o fogo ou o sol podem esquentar algo. Isso está por trás de nosso entendimento da eletricidade, calor e luz, e de como eles se propagam.
Por fim, a representação algébrica, derivada da capacidade de enunciar números referentes a coisas reais – como “matei seis búfalos e dois rinocerontes”. Os Xs e os Ys das equações só são compreensíveis por essa também pré-histórica habilidade.
“É por isso que humanos puderam avançar e inovar – porque podemos usar nosso cérebro para novos propósitos”, afirma o neurocientista Marcel Joust, que liderou o estudo com o colega Robert Mason. “O cérebro humano não mudou muito pelos últimos milhares de anos, mas novos campos como a aeronáutica, genética, medicina e ciência da computação foram desenvolvidos e mudam continuamente. Nossos achados explicam como o cérebro é capaz de aprender e descobrir novos tipos de conceitos.”
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