Conheça Mínimo, Minúsculo e Miniatura, sapos que estão entre os menores do mundo
Descobertos em Madagascar, eles não ganharam esses nomes à toa: o menor do trio tem o tamanho de um grão de arroz.
Quando se trata de sapos, rãs e anfíbios no geral, ou é oito ou é oitenta. Se para algumas pessoas eles despertam nada além de nojo e horror, há quem enxergue uma aura estranhamente fofa em sua aparência pegajosa. Esse dilema, porém, não existe no caso dos três sapinhos descobertos recentemente na ilha africana de Madagascar. Duvida? Basta bater o olho para que concluir que sim, eles são mesmo as coisas mais bonitinhas que já passearam pela Terra.
Sua fofura é inversamente proporcional ao tamanho: o maior dos três mede 14 milímetros (1,4 centímetro) e o menor 8 milímetros (0,8 centímetro). Menores que uma unha humana, portanto. Tais proporções diminutas fazem com que eles não figurem apenas na lista menores sapos, mas também entre os menores vertebrados que habitam o planeta. Só não são os menores porque a concorrência é grande entre os anfíbios: o menor sapo do mundo, Paedophryne amauensis, pode ser encontrado na Papua Nova Guiné e tem 7,7 milímetros. Nada que ofusque o brilho de Mínimo, Minúsculo e Miniatura.
A escolha inusitada dos nomes pode ser explicada pelo ótimo senso de humor de Mark Scherz, biólogo que liderou a equipe responsável descoberta. Após concluir que se tratavam de três espécies totalmente únicas, ele fez questão de aproveitar um trocadilho da língua inglesa na hora de batizá-los. Assim nasceram Mínimo (Mini Mum), Minúsculo (Mini Scule) e Miniatura (Mini Ature).
“Acabou de ser publicado na @PLOSONE!! Conheça Mini, o novo gênero de sapos do Madagascar! Com três novas espécies: Mini mum, Mini scule e Mini ature, porque eu sou HILÁRIO.”
Os três membros do recém-criado gênero Mini pertencem à família Microhylidae, encontrada em quase todos os continentes, exceto Antártida e Europa. A família inclui mais de 650 espécies, dentre eles 35 dos 50 menores sapos do mundo.
Madagascar, ilha do sul da África, é o lar de cerca de 350 espécies de sapos. Em artigo para o site The Conversation, Scherz comenta que localizar essas pequenas criaturas em vastos espaços naturais costuma ser uma tarefa árdua. Os pesquisadores precisam prestar muita atenção nos sinais da floresta, rastreando rãs minúsculas por seus sons distintos e capturando antes que os anfíbios hipersensíveis detectem qualquer movimentação estranha e fujam.
Além disso, capturar as espécimes é apenas o primeiro obstáculo: catalogá-las é ainda mais difícil. “Sapos com tamanho tão pequeno tendem a parecer incrivelmente semelhantes, por isso é fácil subestimar o quão diversos eles realmente são”, disse o autor ao site IFLScience. Com a ajuda de análises moleculares e genéticas, Scherz e seus colegas concluíram que os sapinhos eram realmente únicos: não se pareciam com outros micro-sapos já catalogados e, por isso, mereciam também um gênero próprio.
O pesquisador também concluiu que essas minúsculas espécies de rãs evoluíram para seu tamanho diminuto de forma independente, apesar de viverem na mesma região. As rãs do gênero Mini provavelmente diminuíram para aproveitar ambientes pouco frequentados por criaturas maiores daquelas matas. Por causa disso, se tornaram mais bem equipados para caçar pequenas presas, como formigas e cupins. Outro fato curioso é que, apesar do tamanho, os sapinhos são próximos geneticamente dos maiores membros de sua família filogenética, a Microhylidae.
“Estes são REALMENTE PEQUENOS. Mas o mais louco é que eles são irmãos dos maiores membros da família! Olhe essa diferença de tamanho!”
Todo o bom humor de Scherz e a fofura do gênero Mini pode ter uma grande consequência: interesse público voltado à ciência. Uma vez que Madagascar vem sofrendo nos últimos anos com desmatamento e perca de biodiversidade, as novas espécies podem chamar atenção para a necessidade de conservação dos biomas locais. Mesmo assim, nem todo mundo concordou com a brincadeira no nome dos sapinhos.
“Isso não impediu que algumas pessoas dissessem que Lineu [botânico sueco conhecido como ‘pai da taxonomia moderna’] deve estar se revirando em seu túmulo”, disse Scherz. “Mas, por outro lado, Lineu também nomeou o gênero Phallus [para uma espécie de fungo semelhante a um falo], e, se isso não é taxonomia humorística, eu não sei o que é”, conclui.
O estudo que detalha as características do trio de anfíbios foi publicado na revista científica PLOS ONE.