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Dá para dormir pouco e acordar bem? Tendo estes 3 genes, dá.

Uma série de três estudos encontrou genes que tornam seus possuidores imunes aos efeitos de uma noite mal dormida – como déficit de concentração e exaustão.

Por Guilherme Eler
17 out 2019, 19h55

Em 2009, uma mulher visitou o laboratório do pesquisador Ying-Hui Fu na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, trazendo um problema curioso. Ela reclamava que, apesar de seu hábito de dormir tarde, normalmente à meia-noite, sempre acordava espontaneamente – e sem nenhum sono – às 4 da manhã. E o mesmo acontecia com vários outros membros de sua família.

Examinando mais de 250 voluntários, incluindo os familiares da mulher, pesquisadores encontraram um padrão curioso. Justamente nessa família despontava uma mutação rara no gene DEC2, não encontrada em nenhum outro dos participantes do estudo. Em ratos, a equipe provou que a ação do DEC2 estava diretamente relacionada a quanto sono as cobaias precisavam por noite.

O mesmo grupo, em 2019, encontraria outra chave genética para o mesmo “superpoder”. O gene ADRB1, encontrado em 12 pessoas de uma mesma família que influencia nos ciclos do sono e as fazia dormir 4h30 por noite sem prejuízos.

Meses depois, um terceiro novo gene se provou crucial para essa estranha habilidade de não sentir sono. Ying-Hui Fu e seu grupo, em um estudo publicado na revista Science Translational Medicine, descreveram a ação de uma mutação no gene NPSR1.

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Mas há uma diferença nessa descoberta mais recente: além de precisarem de menos horas de sono para se sentirem descansados, pessoas que carregam a alteração genética no NPSR1 também têm a vantagem de passarem ilesas por problemas causados pela exaustão. No caso, por aquela tradicional perda de memória que só uma noite mal dormida é capaz de causar.

Essa mutação é rara e, segundo os pesquisadores, só acontece em 4 milhões de pessoas no mundo todo. Para a maioria das pessoas, ficar sem dormir por muito tempo tem consequências sérias a longo prazo. “Existem problemas de saúde séries associados à privação do sono”, explica Louis Ptáček, co-autor do estudo. “Pessoas que são impedidas de dormir tem mais chances de sofrer de obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, depressão e déficits cognitivos”.

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No estudo, foram analisados duas pessoas com mutação no gene NPSR1: pai e filho, que, em média, costumavam dormir entre 5h30 e 4h20 por dia. Em ratos de laboratório, essa mesma alteração genética os fazia dormir menos, serem mais ativos e ter desempenho melhor em testes de memória, quando comparado a que outros ratos que passaram várias horas sem pregar o olho.

O teste em questão colocava os ratos em um compartimento especial e os deixava explorar o novo local por alguns minutos. Depois disso, passavam a receber um leve choque elétrico em suas patas. Ratos normais, que lembravam do choque, eram mais cuidadosos ao passear pelo ambiente – mas só quando haviam dormido o suficiente. Mas os que tinham o gene NPSR1 modificado nem precisavam de tantas horas de sono pra serem mais cuidadosos.

O próximo passo do estudo é desenvolver uma substância que consiga controlar o NPSR1 – o que, de acordo com os pesquisadores, pode se converter em tratamentos para déficits cognitivos associados a falta de sono também em humanos. Estima-se que 1 em cada 5 pessoas ao redor do mundo tem problemas para dormir.

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Outra coisa a saber é se, em longo prazo, essas horas de sono reduzidas terão um impacto negativo na saúde dessas pessoas. Em curto prazo, já sabemos que não.

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