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De onde vem o cheiro de carro novo – e por que ele pode dar enjoo

Parece uma delícia – mas o aroma de concessionária é gerado por substâncias que, em concentrações mais altas, fazem mal à saúde. Entenda.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 18h14 - Publicado em 10 jan 2018, 18h01

Gosto não se discute: há quem goste de gasolina, mas há quem prefira cheirar o carro inteiro, sem distinções. Os fãs do cheiro de carro novo são tantos que renderiam uma comunidade no Orkut, se o Orkut ainda existisse. Mas será que eles sabem exatamente o que estão inalando?

Os chutes óbvios – como o plástico do painel, a borracha da vedação dos vidros ou o couro dos bancos – podem até dar pequenas contribuições. Mas o grosso do cheiro vem de compostos orgânicos voláteis (VOC) presentes nos vários tipos de cola e de adesivo usados para fixar as peças no interior do veículo.

Não é tão óbvio, mas o seu dia está repleto de VOCs. A acetona, solvente usada para tirar esmalte de unha, é o exemplo mais conhecido, mas perfumes e até tapetes estão na lista. O que esses compostos têm em comum é a capacidade de evaporar com facilidade em temperatura ambiente. 

Seu olfato nada mais é do que a capacidade do cérebro de atribuir sensações às moléculas que alcançam os sensores no seu nariz. VOCs, que evaporam com muita facilidade, liberam mais moléculas no ar, e é por causa disso que seus cheiros são tão percebidos por nós. Quase todas as substâncias que exalam cheiro de alguma forma, naturais ou sintéticas, têm VOCs na composição – até rosas e bananas.

A lista de VOCs presentes no interior de um carro novo varia, é óbvio, de acordo com o carro e a época da fabricação, além da legislação de cada país – mas dá para garantir que eles não são os mesmos de rosas e bananas. Um relatório de 2001, feito pela Australia’s Commonwealth Scientific & Industrial Research Organization (CSIRO), analisou, ao longo de dois anos, amostras de ar coletadas em intervalos regulares no interior de três veículos comprados em 1998.

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Foram detectados entre 30 e 40 VOCs nos veículos. Outros estudos, como este, feito no Japão em 2003, apontam ainda mais variedade: 113 VOCs. A lista de nomes tem alguns conhecidos do público: o tolueno, por exemplo, é famoso por ir na composição da cola de sapateiro e causar dependência química. Em concentrações muito altas, pode gerar confusão, fadiga muscular e problemas no fígado e nos rins, entre outros sintomas.

Também havia xilenos (que em geral servem como solventes), estireno (considerado cancerígeno por algumas fontes) e 1,2,4-trimetilbenzeno (um aditivo da gasolina). Os graus de toxicidade variam, mas você não gostaria de ingerir nenhuma dessas substâncias sem querer.

Felizmente, o tempo de exposição não é grande o suficiente para causar problemas, mesmo quando a dose de VOCs supera o recomendado. Pessoas mais sensíveis podem sentir dores de cabeça, náuseas e tontura.

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No início do teste, dois dos carros chegaram a registrar concentrações de 64 mg por mde ar. Um terceiro veículo, que começou o teste algumas semanas atrasado por problemas de importação, registrou apenas 2,1 mg por m3 de ar na primeira medição – prova de que a concentração cai rápido. Após seis meses, a dose de VOCs já estava em 1,5 mg por m3. Dois anos depois, caiu para 0,4 mg por m3. Para fins de referência, concentrações entre 3 e 25 mg por m3 são suficientes para causar sintomas moderados.

Em geral, qualquer ambiente novo e fechado tem concentrações altas de VOCs nocivos, inclusive prédios comerciais e residenciais recém inaugurados. Como ocorre com os carros, esses valores caem rápido. Ou seja: na dúvida, é bom deixar veículos novos abertos e arejados, principalmente em locais de clima quente, em que substância voláteis liberam mais moléculas no ar. O cheiro pode até não fazer mal – mas bem não faz. 

Hoje, segundo a Folha de São Paulo, profissionais chamados osmólogos trabalham nas montadoras, alterando as substâncias usadas na fabricação dos automóveis para melhorar a qualidade do ar em seu interior e até – quem diria – manter um pouco do aroma que é tão caro aos motoristas.

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