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Depósito de lixo nuclear dos EUA tem rachaduras – e pode estar vazando

Em 1977, os americanos cavaram um buraco de 115 metros numa ilha do Oceano Pacífico, encheram com lixo radioativo e cobriram com concreto. Mas, agora, isso se tornou um problema

Por A. J. Oliveira
29 Maio 2019, 15h21

Um dos cantos do planeta mais castigados pela corrida armamentista do início da Guerra Fria foram as Ilhas Marshall. Ao todo, 1.156 ilhas e ilhotas compõem o pequeno país insular localizado na Micronésia, Oceano Pacífico. Estão espalhadas por 29 atóis, antigas ilhas vulcânicas que afundaram e foram circundadas por recifes de coral, formando uma lagoa no centro. Este paraíso foi palco de violentos experimentos nucleares dos Estados Unidos.

Entre 1947 e 1958, os EUA detonaram um total de 67 bombas atômicas em dois atóis — Bikini e Enewetak. Décadas depois, em 1977, o exército americano construiu uma espécie de “caixão nuclear” na ilha Runit, localizada no atol de Enewetak. Os militares transformaram uma cratera de explosão em uma espécie de aterro radioativo.

Encheram o buraco de 115 metros de diâmetro com lixo atômico e depois cobriram com um domo de concreto que mede 45 centímetros de espessura. Três anos depois, a população local foi autorizada a retornar à ilha. Mas, de lá para cá, indícios perturbadores apontam que o domo de Runit está mais para uma tentativa de esconder a sujeira debaixo do tapete do que uma medida efetiva para lidar com as graves consequências dos testes nucleares.

Em primeiro lugar, nenhum revestimento foi feito na areia abaixo dos resíduos: é provável que a radiação esteja vazando para o oceano através da formação porosa dos corais da ilha. Rachaduras já começam a aparecer no domo, e o aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas pode comprometer de vez a estrutura. Autoridades locais estão preocupadas e querem chamar a atenção da comunidade internacional para a questão.

Jack Ading, parlamentar das Ilhas Marshall que representa a região de Runit, chamou a estrutura de “monstruosidade”. Ele declarou à France Presse que a situação é uma fonte constante de ansiedade para o povo de Enewetak. “Nós rezamos para que o domo de Runit não acabe se tornando o nosso caixão”, disse. Cerca de 800 pessoas vivem na parte sul do atol, a meros 20 quilômetros de distância do local.

“Para piorar as coisas, nos falaram que não precisamos nos preocupar com o vazamento porque a radioatividade no lado de fora do domo é tão ruim quanto a que está lá dentro”, afirmou Ading. Em 2013, uma inspeção conduzida pelo governo dos EUA constatou que os níveis de radiação nos sedimentos da lagoa de Enewetak já estavam tão altos que uma eventual falha na contenção do domo não resultaria em doses radioativas maiores.

Quem trouxe a questão à tona foi o secretário-geral da ONU, António Guterres, que discutiu o assunto com a presidente do país, Hilda Heine, em reunião recente. Antiga colônia espanhola, as Ilhas Marshall foram controladas por alemães e japoneses antes de serem anexadas aos EUA após a Segunda Guerra. Conquistaram a independência em 1979, mas em 1986 voltaram a se associar aos EUA, dessa vez como uma república soberana.

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