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Dopamina estimula comportamento monogâmico em ratos

O aumento nos níveis desse neurotransmissor faz casais de Arganazes-do-campo desejarem mais a companhia uns dos outros – mas o efeito cessa quando eles ficam muito tempo separados

Por Leo Caparroz
16 jan 2024, 18h12

Todo mundo que já se apaixonou sabe que encontrar a pessoa evoca sensações completamente diferentes de quando você vai sair com seus amigos, por exemplo. Existe uma explicação científica para isso – e tem a ver com a química do cérebro. Isso vale para nós e, também, para um tipo de rato. 

Um estudo publicado no periódico Current Biology analisou como o sistema nervoso dos Arganazes-do-campo (Microtus ochrogaster) reage ao ver seus parceiros. 

Esses roedores, típicos da América do Norte, são uma das poucas espécies “monogâmicas” da natureza: quando encontram parceiros, esses casais vão fazer uma casinha juntos para criar seus filhotes. Esses laços duram para a vida toda e, quando um deles morre, o outro não costuma ir atrás de mais romance – experiências parecidas com o luto.

Por causa dessa relação especial, a espécie é muito usada para estudar o comportamento monogâmico e as uniões sociais e biológicas. Os cientistas exploraram exatamente isso para seu estudo.

“Queríamos revisitar a pergunta: ‘qual a função da dopamina em motivar um indivíduo a ir atrás de seu parceiro depois de um tempo longe”, afirma Zoe Donaldson, principal autora do estudo. “A dopamina é muito importante para formar laços, porque é ela que nos dá aquela sensação prazerosa ao pensar em quem amamos”.

O que eles encontraram foi basicamente um “sinal biológico do desejo, o porquê de querermos ficar com algumas pessoas mais do que com outras”.

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“Nossos parceiros, família e amigos deixam uma marca química em nosso cérebro, e essa marca duradoura é o que nos ajuda a manter esses laços com o tempo”, diz Donaldson.

Na pesquisa, foram usadas tecnologias de neuroimagem para medir, em tempo real, o que acontecia no cérebro de cada roedor. Os casais eram separados e um deles precisa passar por desafios para se reunir (empurrar uma alavanca para abrir uma porta ou escalar uma parede).

Enquanto isso, os pesquisadores monitoravam uma região específica do cérebro, o Núcleo Accumbens, ligado ao sistema de recompensa. Ele cuida de funções emocionais e motivacionais, sendo responsável por encorajar indivíduos a buscar coisas gratificantes – água, comida e lazer. Segurar a mão do seu parceiro, por exemplo, ativa essa área do cérebro.

Dopamina da paixão

Toda vez que o sensor detectava um aumento de dopamina, ele piscava. Quando os ratos estavam passando pelos obstáculos, a luz “iluminava-se como em uma rave”, afirmam os pesquisadores. E a festa de comemoração continuava ao terminá-los e durante o afetuoso reencontro do casal

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Por outro lado, quando era um roedor qualquer do outro lado da porta ou parede, o brilho não tinha a mesma intensidade ou frequência.

“Isto sugere que a dopamina não só é realmente importante para nos motivar a procurar o nosso parceiro”, sugere Anne Pierce, uma das autoras do estudo. “Mais dopamina flui através do nosso centro de recompensas quando estamos com o nosso parceiro do que quando estamos com um estranho”.

Coração partido

Em outra experiência, um casal de roedores foi separado por quatro semanas. Para uma expectativa de vida média de 1 ano, é muito tempo – para nós, seria como ficar sem contato algum com alguém por 6 anos.

Quando o casal se reuniu, não foi a mesma coisa de antes – a onda de dopamina característica não aconteceu. Eles se lembravam um do outro, mas não tinham o mesmo afeto; era como se o ex fosse apenas um rato qualquer. 

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“Pensamos nisso como uma espécie de reinicialização no cérebro que permite ao animal seguir em frente e potencialmente formar um novo vínculo”, afirma Donaldson.

Se você não consegue esquecer aquele caso, isso pode ser uma boa notícia. Nossos cérebros podem ter um mecanismo parecido que nos proteja da dor de um amor não correspondido.

Segundo os pesquisadores, mais pesquisas são necessárias para entender o quão análogos são, nesse quesito, os cérebros da espécie com os humanos. Mas eles acreditam que o estudo pode ajudar pessoas com dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos ou que lutam para superar a perda de alguém que amavam.

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