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E se a gente usasse 100% do cérebro?

Na verdade, a gente até usa. Mas só parte do potencial de cada área acaba explorada.

Por Ivan Martínez
Atualizado em 23 abr 2019, 12h40 - Publicado em 28 ago 2011, 22h00

Na verdade, a gente até usa. Só que não 100% dos 100%. Um ato tão simples quanto conversar com o colega ao lado pode ativar todas as áreas do cérebro. Mas só uma parte do potencial de cada uma. Se todas as áreas funcionassem em potência máxima, e ao mesmo tempo, teríamos uma capacidade de digerir informações, sensações e pensamentos muito maior.

É como um computador: usando todos os seus recursos, o cérebro teria muito mais capacidade de processamento. Não ganharíamos superpoderes. Mas quebrar códigos, tirar conclusões e analisar situações seriam tarefas muito mais fáceis. Como não existe registro de homem que tenha vivido com essa supermáquina na cabeça, a referência mais próxima são os superdotados, que têm maior capacidade de raciocínio. “Eles relacionam informações e formam conexões com mais facilidade”, diz a psicóloga Cristiane Cruz, ex-presidente da Mensa Brasil, associação que busca reunir os 2% mais inteligentes do país. Ou seja, seríamos todos superdotados – e ainda mais poderosos.

Ainda assim, ninguém seria bom em absolutamente tudo. Alguns teriam facilidade para música, outros para física. “Mesmo mais inteligentes, continuaríamos sendo diferentes um do outro desde o nascimento, porque os genes de cada um interferem na inteligência”, diz Ailton Amélio, professor de psicologia da USP. Há algo, no entanto, que seria comum a todos: nosso cérebro ficaria cansado de tanto trabalho. E, exatamente como um computador, daria pau de vez em quando, nos deixando com uma bela dor de cabeça.

Deu branco

Áreas estimuladas do cérebro gastam 1% mais energia do que as em repouso. Esse trabalho extra resultaria em uma canseira mental. E o cérebro pifaria vez ou outra, nos dando dor de cabeça e brancos na memória.

Asas à imaginação

A criatividade correria solta e ninguém ficaria preso a uma única área. Seríamos como Leonardo da Vinci: ele pintou quadros, estudou o corpo e inventou geringonças. A inovação caminharia mais rápido.

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Bipolares

O tamanho de certas áreas do cérebro está ligado a traços da personalidade. Intensificar a atividade delas seria exacerbar esses traços. Tímidos nem sairiam de casa. Extrovertidos seriam uns palhaços.

Razão e insensibilidade

Usaríamos a lógica para calcular todas as consequências de nossos atos. E as consequências das consequências. Uma pesquisa com superdotados mostrou que 87,5% dos participantes eram perfeccionistas. Como eles, sofreríamos buscando sempre a melhor escolha.

Multitaskeando

Concentrar-se em uma só coisa seria difícil. Ficaríamos o tempo todo ligados, mudando de uma atividade para outra. É o que acontece com os superdotados – 76% deles se mostraram hiperativos em um estudo brasileiro, enquanto na população essa parcela é de só 5%.

Fontes Mensa Brasil; Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP); Alexandre Valotta, neurocientista e professor da Universidade Federal de São Paulo; Testing Predictions from Personality, Neuroscience: Brain Structure and the Big Five, de Colin G. DeYoung e outros; Voices of Perfectionism: Perfectionistic Gifted Adolescents in a Rural Middle School, de Patricia A. Schuler.

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