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Ecossistema inédito é descoberto a 9 mil metros de profundidade no oceano

Comunidades de vermes e moluscos vivem na escuridão total e se alimentam de compostos químicos que vazam do leito marinho.

Por Luiza Lopes
Atualizado em 5 ago 2025, 10h33 - Publicado em 4 ago 2025, 18h00

Em meio à escuridão absoluta, ao frio extremo e às intensas pressões geológicas das zonas mais profundas do oceano, cientistas identificaram ecossistemas surpreendentemente ativos, habitados por animais que não dependem da luz solar para sobreviver.

O achado foi descrito na revista Nature nesta última semana. Ele ocorreu em duas regiões do Pacífico Norte: a Fossa de Kuril-Kamchatka, que se estende por cerca de 2.900 km ao largo da costa da Península de Kamchatka, na Rússia, e a Fossa das Aleutas, que percorre 3.400 km ao sul do Alasca.

Essas áreas pertencem à chamada zona hadal – faixa abissal formada por fossas profundas originadas em zonas de subducção, onde uma placa tectônica desliza sob outra, criando um ambiente geologicamente instável. 

Durante décadas, os pesquisadores não tinham tecnologia avançada o suficiente para alcançar essas regiões. “As pessoas sabem muito pouco sobre o fundo das fossas”, disse Mengran Du, geoquímica marinha do Instituto de Ciência e Engenharia das Profundezas Marinhas (IDSSE), da Academia Chinesa de Ciências, ao Washington Post.

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Em quase toda a Terra, a luz solar sustenta os ecossistemas. A fotossíntese realizada por plantas e algas é a base da maioria das cadeias alimentares. Mas na zona hadal, a sobrevivência parece seguir um caminho bem diferente.

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No fundo das fossas oceânicas, microrganismos que vivem no sedimento se alimentam da matéria orgânica (como restos de plantas e animais) que afundam do oceano superior. Ao digerir esse material, eles liberam gases como metano e sulfeto de hidrogênio, que saem por fissuras no solo marinho chamadas “fontes frias”.

Alguns animais dessas regiões têm bactérias dentro de seus corpos que usam esses gases como “combustível” para produzir energia e criar alimento para seus hospedeiros. Esse processo, chamado quimiossíntese, é semelhante à fotossíntese das plantas, mas em vez de usar luz solar, as bactérias usam substâncias químicas para gerar energia.

Embora pareça diferente, esse mecanismo tem paralelos com o que acontece no corpo humano: também abrigamos colônias de microrganismos que nos ajudam a digerir os alimentos.

Até então, formas de vida baseadas nesse processo só haviam sido observadas a até 7.326 metros de profundidade. Agora, foram registradas a até 9.533 metros – mais fundo que a altura do Monte Everest e quase 25% além do limite anteriormente conhecido.

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“Diferente de bolsões isolados de organismos, essa comunidade floresce como um oásis vibrante no vasto deserto do fundo do mar”, afirmou Du à Reuters.

Entre os organismos predominantes estão vermes tubulares – vermelhos, brancos ou cinzentos, com até 30 cm – e moluscos bivalves semelhantes a grandes mariscos brancos, que chegam a 23 cm de comprimento. Muitos parecem ser espécies ainda não descritas pela ciência. 

Até agora, é incerto como esses animais resistem à enorme pressão exercida a tais profundidades. “Eles devem ter algum truque, ou um caminho metabólico único, para se adaptar à alta pressão”, destacou Du ao Washington Post. “Ainda que habitem um dos ambientes mais hostis do planeta, essas formas de vida encontraram uma maneira de sobreviver e prosperar”.

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Também foram observados anêmonas-do-mar, pepinos-do-mar e vermes-colher, que não vivem diretamente da quimiossíntese, mas se alimentam de matéria orgânica e detritos vindos das camadas superiores do oceano.

O estudo ressalta que, embora organismos já tenham sido detectados em profundidades ainda maiores (como na Fossa das Marianas, que ultrapassa os 11 mil metros), nenhum deles dependia da quimiossíntese para sobreviver. Isso torna o novo registro especialmente relevante do ponto de vista ecológico e evolutivo.

Segundo a bióloga Lesley Blankenship-Williams, professora no Palomar College, na Califórnia (EUA), que não participou da pesquisa, o achado mais surpreendente talvez seja a origem do metano que sustenta essas criaturas: ele não provém de processos geológicos profundos, como se supunha, mas de microrganismos presentes no sedimento. 

“Há muito tempo se postulava a existência de comunidades quimiossintéticas florescentes nas fossas, mas este é o primeiro artigo a documentar sua existência abaixo de nove quilômetros e em vários locais”, afirmou ao Washington Post.

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Além disso, para os autores, a existência de comunidades tão ricas em ambientes extremos reforça hipóteses sobre a origem e a disseminação da vida no universo. Ambientes semelhantes, sem luz e com presença de compostos químicos, existem em luas como Europa (de Júpiter) e Encélado (de Saturno).

“Essas descobertas estendem o limite de profundidade das comunidades quimiossintéticas conhecidas no planeta”, relatou Xiaotong Peng, geólogo marinho do IDSSE e líder da pesquisa, à Reuters. “Sugerimos que comunidades semelhantes também possam existir em oceanos extraterrestres, já que espécies químicas como metano e hidrogênio são comuns nesses ambientes.”

Por ora, no entanto, o maior mistério pode estar nos nossos próprios oceanos: estima-se que menos de 0,001% do leito oceânico abaixo dos 200 metros de profundidade tenha sido explorado por humanos.

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