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Em três décadas, geleira mais alta do Everest perdeu 2 mil anos de gelo

Mudanças climáticas causaram o derretimento de 55 metros de gelo – e podem levar ao desaparecimento da geleira daqui trinta anos.

Por Luisa Costa
4 fev 2022, 18h51

O derretimento de geleiras é uma consequência bem conhecida das mudanças climáticas e está acontecendo mais rápido do que nunca. O fenômeno é observado de perto por cientistas, mas, devido às altas altitudes, geleiras de montanhas costumam ser menos estudadas .

Em 2019, uma expedição investiu nessa frente. Uma equipe internacional de cientistas viajou até a South Col Glacier (SCG), a geleira mais alta do Monte Everest, para conferir se o derretimento de gelo também estava acontecendo por lá, a 7 mil metros de altura.

O estudo, publicado na última quinta (3) na revista Climate and Atmospheric Research, é considerado o mais completo já realizado no sul da montanha. Ele descobriu que a SCG perdeu gelo que levou cerca de 2 mil anos para se formar e, no ritmo de derretimento atual, pode desaparecer completamente daqui trinta anos.

Os cientistas criaram mapas de alta resolução, estudaram a história das geleiras, instalaram cinco estações meteorológicas por lá e coletaram amostras. A equipe até adaptou um equipamento de perfuração para carregá-lo montanha acima e extrair um cilindro de gelo de 10 metros da SCG.

Eles se surpreenderam ao chegar em seu destino. Não havia neve no topo da geleira, apenas uma superfície de gelo exposta – sinal de um processo contínuo de derretimento. E as surpresas continuaram com as análises das amostras coletadas. 

O grande cilindro de gelo, por exemplo, foi submetido à técnica de datação por radiocarbono, que mostrou aos cientistas que o gelo na superfície da SCG tinha aproximadamente 2 mil anos de idade. 

Ou seja, o gelo formado posteriormente já havia derretido. Segundo cálculos dos cientistas, a geleira perdeu 55 metros de altura, principalmente nos últimos 25 anos, a partir do aumento de temperatura na região.

A perda de massa é causada principalmente pela sublimação da neve e do gelo – processo em que a água passa direto do estado sólido ao gasoso, sem se tornar líquida. Isso é comum em climas frios e secos, com bastante incidência de radiação solar e ventos fortes – condições encontradas na região da SCG.

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E tudo piora com o sumiço da neve: branca, ela reflete grande parte da radiação solar que a atinge. Ao contrário do gelo, que é mais escuro, a neve manda a radiação solar de volta à atmosfera em vez de absorvê-la. É uma situação semelhante a sair de casa de roupa branca: num calor de 30°C, ela é melhor do que uma roupa preta.

O recuo de geleiras afeta negativamente as fontes de água para uso humano, e o aquecimento observado na SCG também pode aumentar a frequência de avalanches – alterando a prática de escaladas no Everest.

Os cientistas indicam que as descobertas recentes são um chamado para o combate às mudanças climáticas: “A geleira mais alta do Everest demonstrou que até o teto da Terra é impactado pelo aquecimento causado pela humanidade”.

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