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Ensaio brasileiro sugere novas maneiras de lidar com a agressividade canina

Para o pesquisador, as reações negativas às mordidas de cães revelam mais sobre os humanos do que sobre os próprios animais.

Por Manuela Mourão
12 abr 2025, 10h00

Quando o assunto é cachorro, os estereótipos ainda são muito marcantes: não importa se certo Pitbull é um cão dócil e bobão, ele vai botar mais medo do que outras raças ao desfilar na rua. O melhor amigo do homem ainda é bastante traído em casos de ataques e mordidas, como se os cães fossem violentos de propósito.

O biólogo Flávio Ayrosa, mestre em Psicologia Experimental pela USP, desenvolveu um ensaio com apoio do Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interação Social (Ledis), propondo uma nova visão sobre o comportamento agressivo em cães, muitas vezes tratados sem considerar suas individualidades.

Segundo ele, a agressividade foi escolhida como foco por seu impacto social, político e econômico — influenciando desde adoções até políticas públicas. Ayrosa, em entrevista para o Jornal da USP, propõe as perguntas: quando um cão morde, será que ele é o único culpado? Existe mesmo uma agressividade natural ou ela depende do contexto?

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Baseada na chamada Síntese Moderna do Conhecimento, que vê os genes como os principais responsáveis pela evolução – uma ideia influenciada por William Bateson, conhecido como “Pai da Genética” – o cientista propõe que comportamento animal não pode ser reduzido a uma soma de traços herdados e aprendizados culturais. 

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Ele propõe uma abordagem mais ampla, baseada na Teoria dos Sistemas em Desenvolvimento, que considera múltiplos fatores igualmente importantes na formação da agressividade dos cães. A ideia é que o comportamento canino seria moldado por quatro elementos principais: genética, epigenética, simbologia e ambiente.

Esses fatores formam o Umwelt — um “mundo particular” do cão, que inclui como ele percebe, age e reage, até mesmo em situações de estresse ou emoção negativa.

Ayrosa explica que características físicas dos cães afetam não só o corpo, mas também a forma como eles percebem e interagem com o mundo. Por exemplo, o formato do crânio influencia a visão e a respiração; o peso interfere no metabolismo e na disposição; e a altura define o acesso a certos espaços.

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Essas diferenças também impactam a forma como os humanos tratam os cães: são poucos os chihuahuas que serão adestrados e treinados, mas cachorros grandalhões com certeza terão um bom comportamento mais cobrado. “Um cão pequeno latindo pode parecer apenas irritante; um cão grande fazendo o mesmo pode assustar”, disse o pesquisador para o Jornal da USP.

Aliás, o pesquisador ressalta que o adestramento pode ajudar a lidar com a agressividade, mas alerta que ele não é uma solução mágica. Para ele, muitos adestradores ainda vendem a ideia de que os cães seguem uma hierarquia fixa herdada dos lobos — algo que, do ponto de vista científico, não se sustenta.

Esses animais não vivem em hierarquias rígidas. Eles estão o tempo todo ajustando suas relações e comportamentos, de forma dinâmica e contextual.

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Ele também destaca que os cães têm formas naturais de lidar com conflitos, por meio de comportamentos chamados agonísticos — que envolvem ameaça, submissão ou agressão. A agressividade, nesse contexto, é uma forma de comunicação e regulação social, e nem sempre uma mordida é um ataque: pode ser um aviso ou uma reação a um desconforto.

Remover ou sacrificar um cão que morde um humano é uma solução barata para um problema complexo, disse Ayrosa. Morder faz parte do comportamento natural dos cães — o conflito está nas normas sociais humanas. Por mais fofo que seu pet fique de roupinha, não dá para culpá-lo se ele quiser responder à “brincadeira de boneca” com uma mordidinha.

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