Eduardo Szklarz
Erro – Introduzir animais ou vegetais típicos de um lugar em outra região.
Quem – Colonizadores, criadores, agricultores e pessoas comuns.
Quando – Desde os tempos das grandes navegações.
Consequências – Sem predadores naturais, as espécies introduzidas muitas vezes viram pragas e ameaçam o equilíbrio ecológico em seu novo endereço.
Um simples casal de passarinhos capturado num lugar e libertado em outro pode significar um grande problema ecológico. Segundo a engenheira florestal Silvia Renate Ziller, diretora-executiva do Instituto Horus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, espécies invasoras são hoje a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, atrás apenas da destruição provocada pelo homem.
Não existe uma estimativa global do número de espécies invasoras espalhadas pelo mundo, mas sabe-se que elas são milhares. Parte delas foi introduzida de forma intencional. E um dos casos considerados mais preocupantes é o do caranguejo-rei (Paralithodes camtschaticus).
As águas geladas da península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, são o hábitat natural desse verdadeiro monstro marinho. A espécie chega a pesar 12 quilos e pode medir 1,5 metro da ponta de uma pata à outra – mais de 30 vezes o tamanho de um siri. A carapaça vermelha e as enormes pinças o tornam um guerreiro quase invencível, encarado apenas por espécies como o halibute (um parente do linguado) e outros peixes grandalhões.
Exército vermelho
Nos anos 60, cientistas soviéticos introduziram alguns caranguejos-rei no mar de Barents, perto da Noruega, para que servissem de alimento aos habitantes que colonizavam a região. Funcionou: os crustáceos se adaptaram ao novo endereço e viraram uma fonte de proteína e renda para os aldeões. Mas os cientistas soviéticos não imaginavam o problema ambiental que aquilo iria gerar no futuro.
Sem predadores na fase adulta, os caranguejos se espalharam sem controle. Nos anos 70, já tinham chegado à Dinamarca e à Alemanha. Hoje, estima-se que haja 20 milhões se acotovelando nos mares do norte. Vorazes, eles dizimam as ovas dos peixes (principalmente bacalhau), consomem as algas e aniquilam populações inteiras de moluscos, estrelas-do-mar e ouriços. De quebra, ainda destroçam as redes dos pescadores.
A Noruega ficou décadas sem tomar providências. Primeiro, porque a carne desses crustáceos passou a ser muito apreciada em toda a Escandinávia. Depois, porque os bichões se tornaram um bom produto de exportação. O problema é que eles viraram uma praga que as autoridades simplesmente não sabem como deter. Ambientalistas temem que esse “exército vermelho” continue sua marcha rumo às águas mais quentes dos mares do sul, pondo em risco também a vida marinha do Mediterrâneo.
Extinção em massa
De acordo com o secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), firmada por 175 países durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, espécies invasoras contribuíram para a extinção de 39% dos animais que desapareceram por causas conhecidas desde o século 17. No Brasil, há cerca de 350 espécies alienígenas atualmente. Em Galápagos, mais de mil. Considerando-se que até 20% delas são consideradas pragas pela comunidade científica, dá para ter uma ideia do problema que elas representam.
Estranhos no ninho
Conheça outras 4 espécies invasoras que tiram o sono ambientalistas e agricultores do Brasil até a Austrália
Tojo
O que é: um arbusto de flores amarelas e coberto de espinhos.
Invasão: nativa da Europa, essa espécie vegetal foi trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses para ser usada como cerca viva. Sua disseminação acabou saindo de controle.
Estrago: o tojo deixa o solo ácido, o que inibe o crescimento das espécies nativas e inutiliza a área para agricultura e pastoreio. Por ser muito denso e seco, ele aumenta o risco de incêndios. Ironicamente, o fogo estimula a germinação de suas sementes. Muitos tocam fogo no tojo tentando destruí-lo, o que só agrava o problema.
Caramujo africano
O que é: trata-se de um caracol gigante que chega a pesar 500 g.
Invasão: nos anos 80, foi introduzido no Brasil como alternativa ao escargot. Sua criação não deu o retorno esperado. E os criadores libertaram os animais que mantinham em cativeiro.
Estragos: o caramujo africano ataca plantações (o que ameaça a subsistência de pequenos agricultores) e restringe a oferta de alimento para várias espécies animais nativas. Além disso, sua proliferação descontrolada representa um sério risco à saúde pública, pois ele é vetor de doenças graves como a meningite.
Peixe-leão
O que é: uma espécie voraz e resistente nativa do Indo-Pacífico.
Invasão: pode ter chegado ao Atlântico pegando carona do tanque de lastro dos navios. Outra hipótese é a de que alguns espécimes tenham escapado de um aquário na Flórida em 1992, durante a passagem do furacão Andrew.
Estragos: por não ter predadores naturais, o peixe-leão está dizimando várias espécies nativas no Caribe. Suas espinhas produzem uma toxina capaz de matar outros animais e provocar dor intensa em humanos. Acredita-se que sua chegada ao litoral brasileiro seja apenas uma questão de tempo.
Coelho australiano
O que é: híbrido do coelho europeu com o coelho doméstico da Austrália.
Invasão: em 1859, o caçador Thomas Austin levou 24 coelhos europeus selvagens da Inglaterra para sua fazenda na Austrália. Cruzou-os com coelhos domésticos e manteve os bichos num curral. Mas vários exemplares fugiram e se multiplicaram pela ilha.
Estragos: superresistentes e comilões, os coelhos híbridos extinguem pastos inteiros na Austrália, gerando enormes perdas aos agricultores. O governo já tentou de tudo para exterminá-los. Hoje, somam aproximadamente 300 milhões.