Existem quatro espécies de girafa – e não uma só
Faz 2 milhões de anos que todas essas espécies existem, mas a ciência não fazia ideia disso até alguns anos atrás.
Seres pacíficos, herbívoros e sem inimigos naturais: era mais ou menos assim que a ciência via as girafas até agora. Não parecia haver muito a descobrir sobre um animal que mal emite som – tanto é que, desde que começaram a estudar esses gigantes, os biólogos achavam que existia apenas uma espécie deles. Mas um estudo de 2016 revelou, pela primeira vez, que existem quatro espécies distintas – e que ainda temos muito a aprender sobre elas.
O que os cientistas consideravam como a única espécie era a Giraffa camelopardalis, e o que variasse dela era tido com uma subespécie – uma raça dentro da mesma espécie, com diferenças de padrão de pelo, habitat e de chifres. No total, a ciência achava que havia nove dessas raças de girafa no continente africano.
Só que um estudo genético do Museu de História Natural Senckenberg, da Alemanha, e da Fundação de Conservação das Girafas (GCF), da África, revelou que quatro dessas subespécies haviam se tornado espécies – tão geneticamente diferentes entre si que não cruzam e nem vivem nos mesmos habitats. São elas: a girafa do sul (G. giraffa), a girafa Masai (G. tippelskirchi), a girafa reticulada (G. reticulata) e, por fim, a girafa “original” (G. camelopardalis). A do sul tem quatro subespécies, a camelopardalis tem quatro e as duas outras não têm nenhuma.
O que aconteceu foi que, há cerca de 2 milhões de anos, quatro das nove raças começaram um “upgrade evolutivo” e acabaram virando espécies inteiramente novas – duas delas (a girafa Rothschild e a girafa Thornicroft) simplesmente desapareceram, pois se tornaram geneticamente iguais à camelopardalis e à Masai, respectivamente. É, você leu certo: faz 2 milhões de anos que todas essas espécies existem e a ciência não fazia nem ideia disso.
Mas entenda que a diferença é genética – é difícil de perceber só batendo o olho. Descobrir isso deu um trabalho danado: os cientistas precisaram tirar amostras do DNA da pele de mais de 100 girafas de todas as subespécies conhecidas até então, e demorou 10 anos para conseguir material suficiente, porque muitas áreas do continente africano estão em guerra ou em conflitos civis. No fim, eles conseguiram reunir material inclusive de girafas jamais estudadas antes, como as da raça Girafa-núbia, uma subespécie ameaçada de extinção que vive na Etiópia, no Sudão e no Sudão do Sul – três dos países mais pobres do continente.
O interessante é que toda essa diversidade genética nem passava pela cabeça dos cientistas. A ideia original do estudo era apenas mapear as subespécies para facilitar a preservação de cada uma delas, que precisa ser bastante específica, já que cada uma tem hábitos diferentes e vive em um lugar diferente. Isso porque as girafas, assim como os elefantes, têm sido constantemente ameaçadas de extinção por causa da ação humana: em 15 anos, cerca de 40% da população das gigantes desapareceu – hoje, só existem cerca de 100 mil girafas em todo o continente africano, único lugar do mundo onde elas vivem.