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Formigas amputam pernas de colegas machucadas. Veja vídeo

Nada de selvageria: elas escolhem o melhor tratamento diante do tipo de lesão – e o corte tem bons resultados na recuperação dos insetos feridos.

Por Bela Lobato
6 jul 2024, 14h00

Uma formiga machuca uma de suas seis perninhas. Rapidamente, ela estende o membro para uma colega que esteja por perto, que analisa o local (e o tipo) da lesão, além de avaliar o tempo que já se passou desde o acidente.

Com base nisso, a colega pode escolher entre duas abordagens: encher a perna com baba, numa tentativa de amenizar o machucado, ou dar uma lambuzada menos intensa – seguida de uma mordida precisa. 

É isso que os cientistas observaram entre formigas carpinteiras da Flórida (Camponotus floridanus) e descreveram em um artigo publicado no dia 2 de julho na revista Current Biology. Veja abaixo o vídeo de uma delas amputando a perna de uma colega machucada:

O tratamento de feridas entre as formigas não era um fenômeno desconhecido, claro. Em um artigo publicado em 2023, foi descoberto que um grupo diferente de formigas, as Megaponera analis, usa uma glândula especial para inocular ferimentos com compostos antimicrobianos destinados a reprimir possíveis infecções. Entretanto, as carpinteiras da Flórida não têm essa glândula. É a primeira vez que um animal parece estar usando apenas meios mecânicos para tratar suas companheiras de ninho.

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“Quando estamos falando de comportamento de amputação, esse é literalmente o único caso em que ocorre uma amputação sofisticada e sistemática de um indivíduo por outro membro de sua espécie no reino animal”, diz Erik Frank, ecologista comportamental da Universidade de Würzburg e principal autor do artigo.

O estudo analisou o comportamento dos insetos diante de lesões no fêmur (mais próximo ao resto do corpo) e na tíbia (algo como o tornozelo da formiga). Todas as lesões no fêmur foram tratadas com limpeza do corte e amputação do membro. Em contrapartida, as da tíbia receberam apenas a limpeza. 

“Os ferimentos no fêmur, onde sempre amputavam a perna, tinham uma taxa de sucesso em torno de 90% ou 95%. E para a tíbia, onde não se amputava, ainda se obtinha uma taxa de sobrevivência de cerca de 75%”, diz Frank. Sem as intervenções, as taxas de sobrevivência eram de cerca de 40% e 15%, respectivamente.

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O diagnóstico das formigas

Inicialmente, a hipótese é que a escolha do tratamento está relacionada ao risco de infecção no local da ferida. Como o fêmur é composto em grande parte por músculos, ele desempenha uma função vital de bombeamento de sangue. O contrário acontece na tíbia, que tem pouco tecido muscular e pouco envolvimento na circulação.

“Nas lesões da tíbia, o fluxo da hemolinfa [fluido corporal dos animais invertebrados] era menos impedido, o que significa que as bactérias podiam entrar no corpo mais rapidamente. Já nas lesões no fêmur, a velocidade da circulação sanguínea na perna foi reduzida”, diz Frank.

Você pode estar aí pensando: se o dano à tíbia resulta em infecções mais rápidas, não seria melhor que, nesses casos, a perna inteira fosse amputada de uma vez? Não é bem assim.

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As formigas levam cerca de 40 minutos para concluir uma amputação, tempo que é crucial no caso de infecções que começam na tíbia. “Assim, por não conseguirem cortar a perna com rapidez suficiente para evitar a disseminação de bactérias nocivas, as formigas tentam limitar a probabilidade de infecção letal passando mais tempo limpando a ferida da tíbia”, observa o autor do artigo e biólogo evolucionário Laurent Keller, da Universidade de Lausanne.

A descoberta reforça ainda mais o fato de as formigas serem animais altamente colaborativos. “Quando você assiste aos vídeos em que a formiga apresenta a perna ferida e deixa que a outra a morda de forma totalmente voluntária e, em seguida, apresenta a ferida recém-criada para que outra possa terminar o processo de limpeza, esse nível de cooperação inata é impressionante”, diz Frank.

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