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Gelo encontrado em Europa, lua de Júpiter, provavelmente brilha no escuro

O satélite é um dos locais mais promissores para se buscar vida no Sistema Solar – e seu brilho pode nos dar pistas sobre isso.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 17 Maio 2023, 15h24 - Publicado em 11 nov 2020, 19h37

Europa, lua de Júpiter, é um dos poucos lugares do Sistema Solar que têm chances consideráveis de abrigar vida. Debaixo de sua grossa camada de gelo, os cientistas acreditam que haja um vasto oceano salgado. Além disso, vapor de água já foi detectado em sua superfície. Mas Europa não se destaca entre as 79 luas de Júpiter só por isso: uma nova pesquisa descobriu que o satélite provavelmente brilha no escuro.

No estudo, publicado na revista Nature, cientistas da Nasa simularam como a radiação emitida pelo forte campo magnético de Júpiter afeta a superfície congelada de Europa. “Essas partículas carregadas de alta energia, incluindo elétrons, interagem com a superfície rica em gelo e em sal, resultando em processos físicos e químicos complexos”, escrevem, no estudo.

Esse processo já é conhecido da ciência há bastante tempo – o problema é que não sabemos exatamente a composição da superfície da Europa, então não dá para saber exatamente qual seria o resultado dessa mistura. Restou aos cientistas tentar simular o gelo da lua em laboratório, adicionando ingredientes que se suspeita fazer parte da superfície original, como cloreto de sódio e sulfato de magnésio. Como não se sabe ao certo a composição real do gelo original, a equipe testou várias “receitas”. Depois, diminuíram a temperatura das amostras para a baixíssima marca de – 173.15 °C. Por fim, bombardearam as amostras com feixes de partículas diferentes, como elétrons.

A cada teste, as amostras de gelo brilhavam. Até aí, não foi uma surpresa muito grande. Mas o interessante é que, para cada amostra diferente, o brilho mudava de cor e intensidade. “Quando experimentamos novas composições de gelo, o brilho parecia diferente”, explicou em comunicado Bryana Henderson, uma das autoras do estudo. “E todos nós olhamos para ele por um tempo e então dissemos: ‘Isso é algo novo, certo? Este é definitivamente um brilho diferente”.

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A equipe então usou um espectrômetro óptico, equipamento capaz de separar a luz em diferentes comprimentos de onda, para definir como cada amostra de gelo brilhava diferente. Em termos visíveis, o brilho variava entre aspectos azulados, esverdeados e esbranquiçados.

Não sabemos exatamente qual a cor do brilho na prática, porque nunca chegamos perto o suficiente para ver. Mas é quase certo que a Europa de fato brilha por causa dessa radiação. Nossa Lua, em contraste, é escura: só conseguimos ver ela por conta da luz do Sol refletida – porém seu lado não iluminado não emite nenhuma luz visível, ou seja, é literalmente escuro.

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O estudo tem uma importância teórica muito grande: cientistas já sabem como o brilho se manifesta para cada tipo de composição do gelo. Quando conseguirmos espiar o tal gelo, teremos assim mais detalhes sobre o que forma a superfície desse planeta. Isso, é essencial para os estudos da astrobiologia – e para definir se seu oceano na subsuperfície é potencialmente habitável ou não.

É possível que a humanidade nem precise esperar muito. A missão Europa Clipper, uma sonda que vai orbitar o satélite enquanto colhe dados sobre ele, está prevista para ser lançada em meados dessa década. Segundo a Nasa, é possível que os instrumentos da nave consigam captar o brilho do planeta em detalhes – e, com isso, saberemos mais sobre os sais e outros componentes de sua superfície. A agência também tem planos futuros de enviar uma sonda que pousará na lua um dia, embora isso ainda esteja apenas na fase conceitual.

“Não é sempre que em laboratório você descobre algo e diz: ‘Podemos encontrar isso quando chegarmos lá'”, disse Murthy Gudipati, autor do estudo. “Normalmente é o contrário – você primeiro encontra algo e tenta explicá-lo no laboratório. Mas nossa previsão remonta a uma simples observação, e é disso que trata a ciência.”

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