Ima Célia Vieira estuda a recuperação de áreas desmatadas na Amazônia
Neste #MulherCientista, conheça o trabalho de acompanhamento das "capoeiras": pastos abandonados que estão sendo lentamente recolonizados pela mata nativa.
Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Até o próximo final de semana!
A pecuária é responsável por 70% das alterações na paisagem da Floresta Amazônica. Primeiro, os produtores queimam e removem a mata nativa. Depois, a área é coberta por capim, que serve de alimento ao gado. Por fim, muitos terrenos são abandonados, e dão lugar aos vazios sem árvores que você costuma ver no noticiário.
A floresta não fica descoberta para sempre. A vegetação tende a se regenerar. Formam-se florestas secundárias, também conhecidas como capoeiras. Elas não são tão densas ou diversas quanto as primárias, é claro, mas são a alternativa mais viável para recuperar as terras que passaram por desmatamento. Na América Latina, 28% de toda a zona tropical é coberta por florestas secundárias.
As capoeiras possuem diferentes idades. Elas começam com uma vegetação baixa de gramíneas e arbustos, e vão se desenvolvendo com o tempo. Põe tempo nisso: uma floresta secundária de 80 anos possui algo entre 60% e 70% da biomassa da mata original. Mesmo um retalho de mata nativa desmatado em 1940 ainda não teve tempo de se regenerar completamente.
Ima Célia Vieira, pesquisadora titular do Museu Paraense Emílio Goeldi, estuda a resiliência da Amazônia a incêndios intensos que ocorreram na região de Tapajós, no Pará, entre 2015 e 2017.
Os dados gerados por suas pesquisas permitem criar políticas públicas mais eficientes. Um exemplo é dar prioridade para a conservação de capoeiras mais antigas, pois elas são mais estáveis e já atuam como reservatório de biodiversidade. Quanto mais antiga é a capoeira, mais ela retira carbono da atmosfera – o gás que mais contribui para o efeito estufa e o aquecimento global.
Ima também identifica e prioriza as capoeiras usadas por pequenos produtores rurais e comunidades indígenas, que dependem da floresta secundária para a extração de lenha e alimentos.
No ano passado, a pesquisadora publicou um estudo em parceria internacional na revista Science, em que analisa a regeneração da floresta nas últimas duas décadas. Ima recebeu o prêmio de Cientista Master em 2019, oferecido pela Comenda Mulher Cientista do Governo do Pará, pelo trabalho de investigação profunda e prolongada das capoeiras.