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Já era!

Você tem medo do fim do mundo? Então saiba que o planeta já acabou várias vezes. E que, se não fossem esses apocalipses, você não estaria aqui

Por Reinaldo José Lopes
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 24 jan 2011, 22h00

Poluição, aquecimento global, extinções em massa. A Terra pode não estar nos seus melhores dias. Mesmo assim ela é um oásis de calma hoje se formos comparar com o que já aconteceu por aqui. É que o planeta tem o desagradável hábito de se transformar no inferno de vez em quando. Em alguns casos, nosso ar já se tornou irrespirável e abrasante; em outros, vulcões escureceram o céu por anos, ou espessas camadas de gelo fizeram a Terra inteira virar uma cópia da Antártida. O tipo de estrago que a nossa espécie seria capaz de causar com um holocausto atômico ou o aquecimento global fica pequeno perto dessas catástrofes. Para todos os efeitos, é como se o mundo já tivesse acabado – várias vezes. E o resultado é desolador: 99,9% das espécies que já existiram foram extintas.

Os cientistas reconhecem ao menos 5 ocasiões em que mais da metade das espécies da Terra sumiram. São as chamadas Big Five, as maiores extinções de todos os tempos. Elas aconteceram nos últimos 500 milhões de anos, em intervalos que variaram de 50 milhões a 150 milhões de anos, mais ou menos – para você ter uma ideia do que é isso, lembre-se que o homem moderno surgiu há menos de 200 mil anos, e que nosso ancestral comum com os chimpanzés estava vivo há meros 5 milhões de anos. A lista das Big Five restringe-se às catástrofes que aconteceram depois que a vida deixou de ser exclusivamente microscópica e se tornou visível a olho nu, em parte porque é mais fácil identificar com certeza esse tipo de evento com a ajuda de fósseis de animais e plantas. Mas coisas muito ruins já aconteciam por aqui quando os únicos seres vivos eram micróbios. Nessa época, há quase 1 bilhão de anos, há indícios de que o planeta tenha passado 100 milhões de anos congelado – e que alguns dos nossos microancestrais só tenham sobrevivido graças a uma fresta aqui, outra ali. Durante esse tempo, quem estivesse no espaço veria o planeta todo branco, como uma bolona de neve (já que a Terra é azul por causa do mar). Como esse foi um apocalipse bem particular, ele é o ponto de partida desta série de infográficos mesmo não fazendo parte das Big Five. Nessa vez, o mundo acabou por um resfriamento global, uma coisa que acontece de tempos em tempos, já que a Terra dá umas bambeadas em torno do seu próprio eixo de rotação, como se fosse um pião, e esse bamboleio mexe com a distribuição de luz solar na superfície, podendo levar a eras glaciais. Mas houve outros cavaleiros do apocalipse: certos vulcões, por exemplo, são capazes de jogar tanto gás carbônico na atmosfera que o atual aquecimento global, provocado pela emissão dessa substância por nossas fábricas e carros, pareceria fichinha. Calcula-se, por exemplo, que emissões vulcânicas há 250 milhões de anos causaram a pior de todas as extinções, com o sumiço de 90% ou mais das espécies. Elas teriam aumentado a temperatura do planeta em até 6o C. Já a ação humana, nos últimos 100 anos, só foi suficiente para gerar uma “febre” de 0,75o C.

A estimativa é que o vulcanismo e outros eventos, como o esgotamento do oxigênio dos mares, tenham sido a causa das grandes extinções. Então o segundo infográfico aqui é sobre uma que provavelmente juntou vários desses ingredientes – e que, por isso mesmo, foi a maior de todas. Os mais assustadores entre os agentes de destruição, porém, são outros: os asteroides, que podem causar tanto estrago quanto milhões de bombas atômicas. Um deles, por sinal, foi o responsável pela última e mais famosa das grandes extinções (aqui embaixo). Foi há 65 milhões de anos, quando um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro caiu no atual México e exterminou os dinossauros.

As Big Five mataram a torto e a direito. Mesmo entre as espécies sobreviventes, a redução no número de indivíduos foi absurda. Por exemplo: se os 6 bilhões de pessoas do mundo morressem e sobrassem só você e alguém do sexo oposto para começar tudo de novo, significaria que a humanidade sobreviveu. Foi o que aconteceu com a maior parte das espécies que venceram os apocalipses. E os sobreviventes teriam escapado, quase sempre, por pura sorte. Um dos poucos “seguros de vida” de uma espécie seria estar espalhada pelo mundo todo, sugere Michael Benton, paleontólogo da Universidade de Bristol: com exemplares em toda parte, haveria mais chances de que ao menos alguns sobreviventes sobrassem. Já para o paleontólogo Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro (interior paulista), também vale a pena ser um animal no estilo “faz-tudo”, sem adaptações maravilhosas para nenhum ambiente, mas capaz de se virar com vários tipos de comida e abrigo. “É por isso que nós imaginamos que espécies nesse estilo, como baratas, sobreviveriam a um desastre nuclear”, diz. Seja como for, nem a forma de vida menos exigente (feito as cianobactérias, que só precisam de água, luz do Sol e um punhado de nutrientes para prosperar) vai ser páreo para o que aguarda a Terra daqui a 1 bilhão de anos: o Sol vai ficar 10% mais quente. A temperatura vai subir a ponto de toda a água evaporar. E sem água líquida não há vida. A não ser que alguma civilização descendente dos humanos dê um jeito de semear a vida em Marte (que então estará hospitaleiro), será o fim da jornada. Se você quer um motivo para valorizar o nosso planeta de hoje, eis o melhor de todos: no fundo, ele é tão passageiro quanto a sua vida.
 

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Para saber mais

When Life Nearly Died
Michael J. Benton, Thames & Hudson, 2003

 

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