Lágrimas de jacaré podem tratar problemas de visão
É a aposta de uma cientista brasileira que estuda secreções oculares de bichos.
Humanos são os únicos seres vivos capazes de usar o choro para expressar emoções. Apesar disso, as lágrimas não são exclusivas da nossa espécie. Todos os vertebrados produzem essa mistura de secreções, essencial para nutrir e proteger os olhos.
Arianne Pontes Oriá, bióloga da UFBA (Universidade Federal da Bahia) que desde 2010 pesquisa lágrimas de animais, conta como seus estudos podem ajudar espécies – e, de quebra, melhorar a oftalmologia humana.
A estrutura das lágrimas varia conforme a espécie?
As lágrimas são formadas por muco, água e óleo, mas vemos diferenças em relação às proteínas, açúcares e colesterol. O que observamos é que espécies que habitam ambientes similares apresentam composições de lágrimas parecidas.
Os componentes que as tartarugas marinhas possuem na lágrima, por exemplo, permitem que elas mantenham olhos saudáveis num ambiente salino. O jabuti, por outro lado, uma espécie terrestre, tem muito mais proteínas na lágrima do que seu primo marinho. O estudo das lágrimas, assim, pode revelar também alterações no ambiente [como a poluição ou aumento das temperaturas].
De que forma isso pode servir à saúde humana?
A maior parte das proteínas das lágrimas do jacaré, por exemplo, ainda não foi descrita. Sabemos, no entanto, que eles podem passar até 1h30 com os olhos abertos, sem piscar. Humanos, por outro lado, piscam 17 vezes por minuto – e lacrimejam muito mais facilmente. Será que alguma dessas proteínas desconhecidas é responsável por essa habilidade?
Se cientistas conseguissem isolar ou mesmo sintetizar em laboratório alguma substância parecida, poderíamos utilizá-la como tratamento. Seria possível, assim, dar estabilidade a lágrimas de pessoas que sofrem de olho seco – uma das doenças oculares mais comuns entre humanos.