Ler no papel é melhor para a aprendizagem do que ler em telas
O celular favorece leituras rápidas e superficiais, e quem foi alfabetizado no mundo analógico lida mal com as distrações geradas por notificações e apps.
Você já leu aqui na Super que o hábito de escrever à mão é melhor para a memorização do que simplesmente digitar. Seguindo na onda do analógico versus o digital, uma outra pesquisa agora mostra que as telas também perdem no quesito aprendizagem.
Ao que tudo indica, você também consegue reter melhor informação quando lê no papel do que quando lê no computador ou celular. Essa é a conclusão de um artigo científico recém-publicado por pesquisadores da Universidade Macquarie, na Austrália.
É claro que essa não é uma descoberta exatamente nova. Há anos vem sendo feito pesquisas que mostram as diferenças entre os dois tipos de leitura para o cérebro das pessoas; essa é mais uma para engordar a coleção.
Temos a impressão de que ler é ler, não importa o suporte. Mas não é bem assim.
Primeiro porque a habilidade de leitura não é natural para nossa espécie. Enquanto a fala e a audição são características inatas – nosso cérebro nasce programado para a comunicação oral –, a leitura e a escrita são criações culturais, que precisam ser ensinadas.
“Nós não evoluímos para ler, e a interação dos sistemas cognitivos e visuais necessários para fazê-lo é incrivelmente complexa. Nossa linguagem se desenvolveu como fala, então falar e ouvir vêm naturalmente, mas a leitura só surgiu há cerca de 5.500 anos atrás.”
“Não estamos programados para ler e isso continua sendo algo que precisamos aprender, e só podemos dominar praticando por 10 a 15 anos”, explica em comunicado à imprensa Erik Reichle, professor e pesquisador da Universidade Macquarie e um dos autores do novo estudo.
Isso nos leva ao segundo ponto. Se ler e escrever já são algo bastante recente em termos biológicos, ler em telas é algo que surgiu praticamente agora na escala humana. A maior parte das pessoas vivas hoje foi alfabetizada antes da onipresença de computadores domésticos.
Quando lemos em PCs ou smartphones, forçamos a nossa atenção ao extremo, já que precisamos batalhar contra anúncios, links, pop ups, cores, notificações e outras coisas se mexendo.
Quem já nasceu nessa terra sem lei da propaganda pode até crescer acostumado ao caos, mas quem passou a adolescência em um mundo mais analógico é mais suscetível.
Se adaptar ao contexto de leitura digital até é possível, mas exige um grau de motivação e autocontrole que nem todo mundo consegue ter o tempo todo.
A rapidez do mundo online favorece o chamado skimming: aquela leitura bem superficial, em que pegamos somente a ideia básica do texto, sem se atentar muito aos detalhes. O contexto molda nossa relação com o texto.
“Quando as pessoas se envolvem em uma narrativa, como um romance, é menos provável que a compreensão seja afetada pela leitura em uma tela. No entanto, a compreensão diminui quando estamos usando uma tela para ler textos densos em informações, como um livro didático para estudo”, explica Lili Yu, psicóloga da Universidade Macquarie, e uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho.
“A quantidade de tempo disponível também parece ser um fator. Quando os leitores são pressionados a ler algo rapidamente, sua compreensão diminui nos testes na tela em comparação com o papel.” É claro: se você precisa sacar alguma coisa rápido, um texto estático gera menos distrações que um aparelho eletrônico.
E o maior problema é que, embora a leitura no papel seja comprovadamente melhor, as telas também boicotam nossa capacidade de se concentrar em livros ou revistas.
Como temos dificuldade até de assistir a um programa de TV ou curtir um simples momento de ócio sem mexer no celular, ao pegarmos um pedaço de celulose para ler, demoramos mais para engatar a leitura.
“Os livros são estáticos, não há nada se movendo ou piscando, então tem se tornado mais difícil para eles manterem nossa atenção”, comenta o prof Reichle.
Os pesquisadores avisam que não há nenhuma tática milagrosa. A concentração precisa ser treinada, trabalhada de forma gradual. A dica é começar com um material de leitura simples e que você curta, em um local tranquilo, sem distrações e com uma boa iluminação. Uma edição física da Super pode ser uma boa pedida.