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Médico , Ernst Wynder

Era a primeira vez que um membro destacado da indústria admitia publicamente que o cigarro devasta os pulmões dos fumantes.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 28 fev 2002, 22h00

Leandro Sarmatz

Você se lembra do filme O Informante, com Al Pacino e Russel Crowe? A fita apresenta o tremendo escândalo que se sucedeu às denúncias de um executivo e bioquímico da Brown Williamson, poderosa indústria de tabaco americana. Jeffrey Wigand, o tal executivo, foi demitido em 1993 por conta de suas pesquisas para um cigarro menos cancerígeno. Descoberto pela rede de TV CBS, Wigand cantou como um canário os segredos mais recônditos – e escusos – de um negócio que movimenta anualmente 300 bilhões de dólares no mundo.

Era a primeira vez que um membro destacado da indústria admitia publicamente que o cigarro devasta os pulmões dos fumantes. E, mais importante , foi graças ao alarido provocado por revelações desse teor que os fabricantes de cigarro tiveram que capitular e pagar a todos os 50 Estados americanos a maior indenização da história: 246 milhões de dólares, para compensar os gastos com saúde pública.

Pois essa goleada fenomenal sobre a indústria da fumaça seria impossível sem outro herói que, exatos 40 anos antes, começou a desvendar os vínculos entre cigarro e câncer. A história tem os personagens e os ingredientes de uma fábula: um médico, alguns ratos mártires, uma longa batalha solitária. O médico era Ernst Wynder (1922-1999), um judeu alemão que fugira do nazismo na Alemanha e se estabelecera nos Estados Unidos. Em 1953, Wynder começou uma experiência curiosa: pincelou o dorso depilado de 86 ratos com uma substância extraída da fumaça do cigarro Lucky Strike.

Cada ratinho recebeu semanalmente, por dois anos, 40 gramas de alcatrão destilado, mais ou menos a mesma quantidade presente num maço de cigarros. O resultado: dos 62 que chegaram ao final do experimento, 58% tinham desenvolvido tumores cancerígenos. Nos 20 meses seguintes, 90% dos ratos haviam perecido. Num grupo de roedores que não tinham recebido a substância, 58% sobreviveram.

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Claro que as descobertas de Wynder não foram bem recebidas pela indústria do tabaco. Era a primeira vez que um estudo realizado sob condições rigorosas comprovava que o fumo causa câncer. Amplamente divulgada pela mídia na época, a descoberta foi responsável por uma queda de 10% no consumo de cigarros per capita nos Estados Unidos entre 1953 e 1954.

Acuados, os fabricantes de cigarro iniciaram uma ofensiva para neutralizar as más notícias. Num anúncio, publicado em nada menos que 448 jornais em 1954, a indústria bombardeava as descobertas do alemão e afirmava que ele não tinha evidências científicas. Wynder era uma voz solitária. Os ataques a ele vinham de muitos flancos. “Cientistas” defensores da indústria tabagista apareciam em programas de TV e escreviam artigos em jornais (muitos desses espaços descaradamente comprados) contestando as descobertas do alemão. Tendo que provar a todo momento que suas pesquisas haviam sido feitas com rigor, Wynder foi visto com desconfiança até mesmo por alguns órgãos do governo americano.

Apesar de ter suas investigações no laboratório enxovalhadas diante de milhões de americanos, de ser ridicularizado por fumantes e ver sua seriedade posta em dúvida, Wynder não se abalou. Sua “luta solitária” (como certa vez resumiu um colega de laboratório) culminou com a fundação, em 1969, da American Health Foundation, instituição que, entre outras coisas, é um bastião na pesquisa sobre os males do cigarro e que provou, além de qualquer dúvida, que as conclusões de Wynder estavam corretas. Apenas um dos legados do pioneiro da luta antitabagista.

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